Animal foi resgatado de incêndio no Paranoá, em 2015, e ganhou nova vida ao receber proteção feita em material biodegradável. Guinness Book 2022 reconheceu feito, o primeiro do mundo.
Após ser resgatada de um incêndio, sobreviver a duas pneumonias e receber um casco novo, a jabuti fêmea Fred conquistou mais um feito: entrou para o “Guinness Book 2022” – o livro dos recordes – com a primeira prótese animal feita em impressora 3D no mundo.
O animal, que vive em Brasília, tinha cerca de 20 anos quando foi encontrado em uma região de mata do Paranoá, em 2015. Com quase 90% do casco queimado, portanto, sem o “esqueleto” que a protegeria de queimaduras do sol e de perfurações no corpo, Fred foi levada até uma clínica veterinária que atende animais silvestres, onde recebeu cuidados e a chance de uma nova vida.
Na clínica, a jabuti fêmea recebeu os primeiros socorros para amenizar as dores da queimadura e se recuperou. “Assim que ela chegou, cogitamos eutanásia, por ser uma situação muito precária, com pouca chance de sobrevivência”, contou ao g1 o veterinário Matheus Rabello Krüger.
“Depois, vimos que ela estava se esforçando muito para sobreviver, e merecia uma segunda chance. Nunca tínhamos visto relatos de um animal vivo sem o casco. Ela sempre demonstrou ser muito guerreira, e hoje está ótima.”
Casco em 3D
Com a boa recuperação, a jabuti – apelidada de “Fred” por, segundo os veterinários, se assemelhar ao personagem Fred Krueger do filme de terror “A Hora do Pesadelo” – passou para a fase de reabilitação.
À época, um grupo de médicos veterinários, dentistas veterinários, dentista humano e um designer gráfico voluntários, de São Paulo, Mato Grosso e do Distrito Federal, se uniu para desenvolver uma prótese em 3D para o animal, pelo projeto “Animal Avengers“.
Com um celular, eles tiraram 60 fotos ao redor do animal e, a partir das imagens geradas, usaram um programa gratuito para criar a visão tridimensional e projetar a estrutura. A prótese custou cerca de R$ 160, feita de ácido polilático (PLA), um material biodegradável.
“Foram dois meses de discussão e reuniões online. A execução da impressão 3D durou 50 horas, feita com tecnologia nacional, de baixo custo. O objetivo do projeto é que tudo seja acessível para equipe”, explicou Matheus Rabello Krüger, veterinário da equipe voluntária.
Após a impressão, o novo casco do animal foi pintado à mão por um artista de Brasília e ganhou cores realistas.
“Como o material era branco, queríamos que a Fred se sentisse mais confortável. Então, pedimos para pintar, para ajudar na camuflagem”, contou Matheus.
Adaptação
Passados seis anos, Fred se adaptou bem à prótese, segundo os veterinários, e, hoje, vive sob os cuidados de uma ONG que recebe animais resgatados.
“Fred está ótima. O casco funcionou como um curativo e, por baixo, cresceu um tecido no corpo dela semelhante ao casco natural, em termo de dureza e resistência. Antes, podíamos perfurá-la até com dedo, com risco de atingir órgãos importantes”, disse Matheus.