Ao longo de mais de 200 anos de história, presidentes dos Estados Unidos receberam os mais extravagantes e incomuns presentes dados por líderes internacionais.
Um dos mais famosos acabou incorporado ao cotidiano do chefe de Estado da nação mais poderosa do mundo. É a mesa Resolute, um móvel que acabou se tornando um dos muitos símbolos de poder dos americanos. Foi um presente dado pela Rainha Victória ao presidente Rutherford B. Hayes em 1880. Gerações de presidentes usaram a escrivaninha, feita com a madeira retirada de um navio britânico chamado Resolute.
Nem só objetos foram presenteados aos presidentes dos Estados Unidos. Animais também aparecem na lista.
Em 1904, Theodore Roosevelt recebeu um avestruz e uma zebra do imperador da Abissínia, a atual Etiópia. Na década de 1970, Pat Nixon, mulher de Richard Nixon, ganhou dois pandas da China. Foi uma conhecida manobra diplomática para aproximar os dois países, algo que é usado até os dias de hoje.
Reuniões com líderes internacionais fazem parte da agenda semanal de um presidente americano. Nelas, as trocas de presentes são momentos importantes para a construção da diplomacia. Um dos responsáveis por supervisionar os encontros entre o governo americano e delegações estrangeiras é o chefe ou a chefe de protocolo da Casa Branca. Capricia Marshall ocupou esse posto durante o governo Obama e participou de momentos históricos.
Em entrevista à CNN, ela relembrou a troca de presentes entre Obama e a Rainha Elizabeth 2ª, em Londres, durante uma visita de Estado ao Reino Unido.
Ela contou que conversou com o então presidente qual presente seria dado à monarca. Após muita pesquisa, Capricia encontrou cardápios originais e convites da última visita do pai de Elizabeth, o Rei George 6º, aos Estados Unidos.
Quando ela viu o presente, eu acho que eu vi uma lágrima no olho dela. Esse é o momento mais esperado. É quando o presente é impactante, mostra que houve muita atenção. É criada uma ligação emocional entre os dois líderes. É parte da diplomacia. É o chamado ‘soft power’. É quando você tenta consolidar uma relação. Então, usamos os presentes como parte das nossas ferramentas diplomáticas
Capricia Marshall
Protocolos
Até 1928, fossem animais ou objetos, presentes dados por governos estrangeiros teriam que ser aprovados pelo Congresso e só depois poderiam se tornar propriedade do presidente. Mas para aumentar a transparência, evitar corrupção e conflitos de interesse, foram criadas regras para a prestação de contas.
Atualmente, existe um protocolo rígido para o gerenciamento dos presentes dados por líderes internacionais. O presidente só pode ficar com um item se ele estiver abaixo de um valor estabelecido. A cada três anos, essa quantia é revisada, de acordo com a situação da economia.
Em março deste ano, ficou em 480 dólares. Qualquer presente acima disso, não poderá ser de uso pessoal do presidente, da primeira-dama, do vice ou de qualquer servidor público federal. No caso do chefe de Estado, a Casa Branca pode decidir se o item recebido ficará em exibição na sede do governo ou se será guardado nos Arquivos Nacionais. Há uma outra opção: caso o presidente goste muito do objeto presenteado, ele poderá comprá-lo de volta do governo, mas nunca vendê-lo.
As regras não estabelecem que há uma exceção para um presente “personalíssimo”, como no caso do Brasil. Segundo a ex-chefe dos Arquivos Nacionais, Dra. Trudy Peterson, não existe uma exceção deste tipo. “A proibição de ficar com presentes internacionais data de 250 anos. O estatuto é muito claro”, segundo ela.
Na presidência Joe Biden, os registros mais novos sobre presentes recebidos pelo democrata são de 2021, primeiro ano de mandato dele. As informações são publicadas em uma espécie de Diário Oficial dos Estados Unidos. O documento mostra, por exemplo, que Biden recebeu um par de botas de couro do então premiê australiano, Scott Morrisson. O calçado foi avaliado em US$ 500, ou seja, acima do valor estabelecido. A Casa Branca decidiu enviá-lo para armazenamento nos Arquivos Nacionais.
Presente de Putin
Um outro presente chama a atenção: uma mini escrivaninha e uma caneta avaliadas em US$ 12 mil. O presenteador foi Vladimir Putin, presidente da Rússia. O item também foi transferido para os Arquivos Nacionais. Ainda segundo o documento, os presentes foram aceitos porque recusá-los criaria constrangimento entre o governo americano e a delegação estrangeira.
A lista tem 19 páginas e inclui presentes recebidos por outras pessoas, como a vice-presidente Kamala Harris, o segundo cavalheiro Douglas Emhoff, e o secretário de Estado Antony Blinken. O objetivo é garantir transparência para que nada passe despercebido.
A falta de prestação de contas é justamente uma das reclamações dos democratas contra o ex-presidente Donald Trump. Segundo parlamentares do partido de Joe Biden, Trump e a família não declararam o recebimento de quase US$ 300 mil em presentes oficiais de governos estrangeiros. Os itens, entre eles, uma pintura, uma adaga e um tapete, nunca foram encontrados. Trump nega qualquer irregularidade.
Segundo Trudy Peterson, ex-chefe dos Arquivos Nacionais, os Estados Unidos não têm um histórico recente de problemas deste tipo e, por isso, não há muito conhecimento sobre o que fazer para a lei ser cumprida. “O Congresso investigou, mas o que você faz? Você diz a um ex-presidente “olha, acho que você roubou um relógio de US$ 5 mil. Isso é corrupção”.
FONTE: Por CNN