A artista venezuelana Julieta Hernández morta no Amazonas foi vítima de roubo, agressões e abuso sexual, antes de ser assassinada. A informação foi confirmada pela Polícia Civil, durante coletiva de imprensa nesta segunda-feira (8).
O corpo de Julieta foi encontrado na sexta-feira (5) em uma área de mata do município de Presidente Figueiredo. Um casal foi preso pela Polícia Civil e confessou os crimes.
De acordo com o delegado titular da Delegacia de Presidente Figueiredo, Valdinei Silva, a investigação começou depois que um amigo da vítima do Piauí registrou um Boletim de Ocorrência, no dia 4 de janeiro, pela Delegacia Virtual.
No último contato com amigos, no dia 23 de dezembro, Julieta informou que dormiria em Presidente Figueiredo, no interior do Amazonas. O delegado informou que as investigações apontaram que ela tentou pernoitar em duas pousadas, mas não conseguiu.
Foi quando ela chegou à casa onde o casal suspeito do crime morava. Conforme a polícia, o local funciona como ponto de apoio para pessoas que transitam de bicicleta, ou a pé pela rodovia BR-174.
“Fomos até o local onde ela foi encontrada. Lá, a equipe conversou com um dos autores e ele disse que ela teria pernoitado no local e teria pegado a estrada na manhã o dia 23. A partir dessa informação falsa dele, as equipes seguiram a estrada até a reserva indígena. Algumas pessoas até falaram que viram ela na rodovia, talvez se confundiram com outra pessoa, tem alguns viajantes. Solicitamos imagens da Polícia Rodoviária Federal, mas ninguém tinha conseguido as imagens dela nas câmeras”, disse o delegado.
Um morador da região encontrou partes da bicicleta de Julieta e passou a informação aos policiais. O delegado disse que o homem contou que notou as semelhanças ao ver fotos da vítima com bicicleta divulgadas durante as buscas. O local era próximo da residência do casal suspeito do crime.
“Fomos ao local e o suspeito já ia saindo pela lateral do terreno. A equipe já percebeu que ele estava saindo em fuga e já foi feita a detenção dele no local. Encontramos a barraca dela, outras partes da bicicleta no local. Conduzimos ele e a esposa dele para a delegacia”, explicou o delegado.
O casal foi ouvido de maneira separada. Segundo a polícia, os dois entraram em contradição sobre o que teria acontecido, mas confessaram o crime.
A partir dos depoimentos, o corpo de Julieta foi encontrado a cerca de 20 metros da casa.
Como o crime aconteceu
Nesta segunda-feira, a Polícia Civil também deu detalhes de como a artista foi assassinada.
“Lá tem uma varanda na frente da casa. Ela estava dormindo e por volta de 1h do dia 23, o suspeito mandou que a esposa dele fosse até a vítima e roubasse o celular. A esposa se recusou e ele então pegou uma faca na cozinha, foi até ela e exigiu o celular. Houve uma luta corporal, ele enforcou a vítima, jogou ela no chão e disse para a esposa amarrar as pernas dela. Assim ela fez”, disse o delegado.
Em seguida, segundo a polícia, o homem arrastou Julieta para dentro da casa, disse para que a esposa trancasse a casa, apagasse as luzes e começou a abusar sexualmente da mulher.
A esposa teria ligado as luzes e visto os abusos. Com ciúmes, a companheira ateou fogo nos dois.
De acordo com a polícia, o homem tentou apagar as chamas e chegou a procurar um hospital em busca de socorro. No entanto, enquanto isso, a esposa amarrou uma corda no corpo da vítima, que estava desacordada, arrastou-a para uma área de mata e a enterrou.
O casal preso suspeito de assassinar Julieta foi indiciado pelos crimes de latrocínio, estupro e ocultação de cadáver.
Desaparecimento
Ao g1, a amiga da artista, Ana Melo, contou que ela estava no Brasil desde 2015 e mantinha contato com um grupo de artistas e cicloviajantes da companhia “Pé Vermêi”. Enquanto pedalam pelo país, os membros do grupo costumam informar os demais sobre onde estão, antes de ficarem sem sinal de telefone e internet.
Julieta parou de falar com o grupo quando passava pela cidade de Presidente Figueiredo, interior do Amazonas. O último contato recebido pelos membros da equipe aconteceu no dia 23 de dezembro de 2023. A venezuelana informou que estava a caminho de seu país de origem.
“Antes dela ficar sem sinal, a gente já sabia que seria um trajeto desafiador. Julieta é bem experiente, já tem anos que ela pedala pelo Brasil e agora está voltando para Venezuela. O que a gente achou estranho foi o fato dela não ter avisado que ficaria sem sinal. Simplesmente as mensagens pararam de chegar e a gente não conseguia mais localizá-la”, contou Ana Melo, antes da polícia encontrar o corpo da vítima.
Prisão dos suspeitos
Na sexta-feira (5), o corpo da vítima foi encontrado na área de mata de Presidente Figueiredo. No mesmo dia, o casal suspeito de cometer os crimes foi preso pela Polícia Civil.
Na delegacia, os dois presos deram versões diferentes sobre o crime. A mulher confessou que matou a venezuelana, após uma crise de ciúmes, depois que presenciou o companheiro estuprando a vítima.
Já o homem afirmou que a venezuelana e ele usavam drogas, quando a companheira ficou com ciúme, jogou álcool nos dois e ateou fogo.
Confirmação da morte
O Departamento de Polícia Técnico-Cientifica (DPTC) informou, na noite de sábado (6), que o corpo encontrado na área de mata de Presidente Figueiredo, era de Julieta Hernández. A informação também foi confirmada ao g1 pelo delegado da 37º Delegacia de Polícia, Valdinei Silva.
A identificação foi feita por meio do procedimento de necropapiloscopia, realizado em conjunto por peritos do Instituto Médico Legal (IML) e do Instituto de Identificação do Amazonas.
Amigos de Julieta Hernández, disseram ao g1, no domingo (7), que família da artista deve chegar a Manaus nos próximos dias.
FONTE: Por G1