O governo planeja criar um fundo de até R$ 6 bilhões para financiar as companhias aéreas e a Petrobras aparece envolvida com os preços do querosene (QAV), combustível usado em aviões.
O pacote, que ainda está sendo formulado em meio ao pedido de recuperação judicial da Gol, acende um alerta e preocupa o mercado, segundo especialistas consultados pela CNN.
Silvio Costa Filho, ministro de Portos e Aeroportos, afirmou no fim de janeiro que discussões sobre a remodelagem do QAV estão ocorrendo e que há uma “sensibilidade” da Petrobras sobre o assunto.
“A gente está vendo a melhor formatação em discussão com as companhias aéreas e com a Petrobras”, disse.
Nesta quinta-feira (1º), a empresa estatal informou uma redução de 0,4% no preço do querosene vendido para as distribuidoras, após cancelamento de reunião que iria discutir as condições do combustível.
Essa diminuição já era uma das possibilidades previstas pelos especialistas, além da venda direta da Petrobras sem intermediação de distribuidoras, o que pode reduzir os custos para as empresas da ordem de 4% a 8%, de acordo com Volnei Eyng, economista e CEO da gestora Multiplike.
Contudo, esse envolvimento entre o governo e a Petrobras suscita preocupações de mercado com a abertura de precedentes para possíveis novas interferências políticas na gestão da estatal, diz o especialista.
“A interferência do governo dentro de uma empresa que tem o capital aberto sempre deixa uma sensação de má gestão, uma sensação aos investidores de interferência no governo, e são políticas que a gente vê que ao longo do tempo os investidores acabam tendo prejuízo”, pontua.
Esse movimento se junta a outra tentativa de mediação recente do governo, quando Luiz Inácio Lula da Silva tentou emplacar Guido Mantega como CEO Vale — recuando após reações negativas do mercado, diz Tato Barros, investidor profissional e especialista em renda variável.
Atualmente, o combustível é um dos principais custos das companhias aéreas diante da redução das margens de lucro. Para a Petrobras, no entanto, a querosene tem pouca relevância nos balanços financeiros, afirmam os analistas do mercado.
Outros entraves enfrentados pelas aéreas são os custos atrelados ao dólar — enquanto as receitas são em reais, exposição a variação do petróleo, condições climáticas, custo operacional alto, necessidade de investimentos constantes e o rescaldo da pandemia da Covid-19.
A situação delicada das empresas ganhou mais destaque no fim da semana passada após o pedido de recuperação da Gol ter sido acatada pela Justiça norte-americana.
Alberto Mattos de Souza, especialista em negociações estratégicas e sócio do PMMF Advogados, alerta ao mercado que esse tipo de situação já ocorreu outras vezes. Em 2020, a Latam fez o mesmo trajeto da Gol ao protocolar o “chapter 11” nos EUA.
Segundo ele, é essencial encontrar um equilíbrio nas negociações e apostar na fiscalização, já que “a receita de querosene não é a mais importante, mas alguém vai pagar essa conta, como a BNDES ou algum financiamento”.
Mattos lembra que o peso do querosene em território brasileiro é maior do que em outros países. Em janeiro de 2023, a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) apontou que o Brasil paga quase 50% a mais que os EUA pelo QAV.
Na mesma medida, os preços do combustível usado por aviões cobrados pelas refinarias nacionais foram 6,7% superiores aos estadunidenses, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Brasil (ANP).
O especialista analisa que essa movimentação para auxiliar as aéreas não têm uma única solução.
“É mais complexo, um debate amplo que possa envolver até questões judiciais”, destaca.
FONTE: Por CNN