No fim de junho, o turista norueguês Mads Mikkelsen disse ao jornal Nordlys que foi impedido de entrar nos Estados Unidos após agentes da imigração encontrarem em seu celular um meme do vice-presidente norte-americano J.D. Vance.
O jovem de 21 anos também afirmou que os agentes o ameaçaram com uma multa de US$ 5 mil (cerca de R$ 27,2 mil) ou cinco anos de prisão se ele não fornecesse a senha do celular. Ao CNN Viagem & Gastronomia, o Consulado Geral dos Estados Unidos disse que não comenta sobre casos individuais de visto.
Apesar do Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos alegar que Mikkelsen foi barrado após admitir ter usado drogas, o caso levanta a discussão: quais as regras sobre redes sociais para turistas entrarem nos Estados Unidos no governo Trump?
Especialistas ouvidas pelo CNN Viagem & Gastronomia afirmam que as principais medidas exigem a abertura dos perfis nas redes sociais e a disponibilização de todos os nomes de usuário que os viajantes utilizaram nos últimos cinco anos.
À reportagem, o Consulado dos EUA diz que “as regras sobre checagem de mídias sociais aplicam-se a solicitantes de vistos de estudantes”. No entanto, as especialistas discordam e afirmam que, na prática, o governo confere as mídias de todos que buscam entrar em território norte-americano.
Críticas ao governo
A advogada Priscila Caneparo, doutora em Direito Internacional e professora da pós-graduação da Ambra University, nos EUA, afirma que Trump faz essas exigências para monitorar o que turistas ou estudantes publicam a respeito do governo.
“[Eles verificam para saber] Se há alguma questão atrelada à crítica política, ou a algum ataque político, ou se há o que eles chamam de discriminação, preconceito e algo que afete a segurança nacional”, explica a professora.
Clarissa Forner, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que a política de monitoramento e a coleta de dados não é nova nos EUA. A medida tornou-se uma prática “recorrente e legalmente viabilizada” após o ataque às Torres Gêmeas, em 2001, no governo de George W. Bush, e foi estendida na presidência de Barack Obama.
“Naquele contexto, o terrorismo era empregado como justificativa. No contexto atual, essa mesma justificativa se soma ao ‘combate ao antissemitismo e à imigração ilegal’, segundo as fontes oficiais. Mas em ambos os casos o princípio se mantém, com alargamento dos dispositivos de controle, vigilância e, em última instância, repressão, particularmente no caso de Trump”, explica a internacionalista.
Priscila também destaca que a Customs and Border Protection (CBP), responsável pela proteção da fronteira dos EUA, pode realizar a fiscalização de dispositivos eletrônonicos de viajantes. “Podem clonar o dispositivo, clonar dados biométricos para justamente fazer uma varredura no telefone/ laptop para ver se há de fato algum documento, foto ou algo que seja contrário à política e aos valores de Trump. Também há o cancelamento de vistos por expressão política.”
Apesar do governo Trump alegar que a política tem como objetivo proteger os Estados Unidos de possíveis ataques terroristas, tanto Priscila quanto Clarissa destacam que, na prática, a medida busca vigiar críticos de Israel — o que pode ser confundido com a participação em movimentos antissionistas — e também opositores do próprio governo Trump.

As políticas migratórias do presidente não são novidades: foram implementadas em ambos os mandatos — primeiro de 2017 a 2021 e, depois, a partir de 2025. Para Clarissa, houve uma mudança de abordagem entre os dois períodos, sendo que, antes, as medidas visavam proibir vistos a grupos específicos, aumentar as detenções e deportações, além da construção do muro na fronteira com o México durante o primeiro mandato.
“No governo atual, esta abordagem se combina com o aprofundamento de dispositivos que exercem maior alcance também no plano doméstico, incluindo o aumento dos dispositivos de vigilância e controle, os cortes de programas sociais, a repressão nas universidades e a intensificação das detenções em espaços públicos”, explica.
Qual é o risco para o turista brasileiro?
A professora da UFRJ diz que as medidas do governo Trump não são específicas para os turistas do Brasil e devem se aplicar a todos os viajantes. Porém, com os casos recentes de deportação de brasileiros dos EUA, as políticas também os afetam.
Priscila, da Ambra University, aconselha que os viajantes brasileiros devem listar e lembrar todos os nomes de usuário das redes sociais que usaram nos últimos cinco anos. Para realizar a entrevista de visto, seja para turista ou estudante, é primordial levar essa seleção ao consulado.
Além disso, ela sugere que os viajantes revisem o histórico do celular e verifiquem se há críticas a algum dos mandatos de Trump — ou alguma postagem discordando dos ideais do presidente.
A advogada também recomenda evitar a publicação de posicionamentos políticos e temas internacionais nas redes sociais, principalmente antes da viagem.
Ela acrescenta: “[Vale] Limpar todo o dispositivo antes de embarcar, como memes que, por ventura, eles possam achar ofensivo para os EUA. E apagar aplicativos, fotos e mensagens que possam ser interpretados contra eles.”
O mais importante, segundo Priscila, é ter o contato da Embaixada do Brasil, em Washington D.C., e do consulado brasileiro mais próximo da cidade por onde o viajante entrará nos EUA. Em caso de imprevisto, os turistas devem acionar esses órgãos.
FONTE: Por CNN