Margarina, linguiça calabresa e bolacha cream-cracker foram os produtos da cesta básica do amazonense que mais tiveram reajuste de preço em Manaus entre janeiro e agosto de 2021, segundo pesquisa da Comissão de Defesa do Consumidor da Assembleia Legislativa do Amazonas. O aumento é desproporcional à inflação acumulada.
O preço da cesta básica no estado aumentou 11%. Em janeiro o cidadão precisava desembolsar R$ 250,94 em média, para obter os 26 iten da cesta. Em agosto esse custo subiu para R$ 278,60.7
Nesta segunda-feira (27), o Banco Central informou que a estimativa para o IPCA ( Índice de Preços ao Consumidor Amplo )subiu de 8,35% para 8,45% ao ano.
O aumento no preço da Margarina entre janeiro e agosto foi de 63%, da linguiça de 41% e da bolacha, de 40%. Os índices são desproporcionais à taxa de inflação acumulada em 2020, que foi de 9,6%.
Em janeiro a média de preço da margarina de 500 gramas era de R$ 3,83. Em agosto a média foi de R$ 5,68. Um aumento de 48%. A linguiça calabresa tinha média de custo de R$ 36,65 o quilo. Em agosto isso foi para R$ 45,58, o que representa aumento de 24%. A bolacha cream-cracker custava R$ 3,07. Em agosto passou a ser vendida, em média, a R$ 4,25, com alta de 38%.
Os alimentos que tiveram menor reajuste de preço foram o leite em pó, com 3,85%; o óleo de soja, com 5,90%; e o feijão carioca, com 8,83%. É possível verificar os dados AQUI.
A variação no preço pesou no bolso do consumidor. A autônoma Jucilene Andrade, 31, tem um restaurante de comida caseira desde setembro de 2019 na zona centro-sul de Manaus. Ela trabalha sozinha com ajuda da esposa e de um sobrinho, mas com o elevado preço dos alimentos decidiu procurar outro trabalho para complementar a renda.
Hoje, além do restaurante, ela é também caixa de supermercado. A mudança ocorreu em agosto deste ano. O restaurante, que antes tinha perspectivas de crescimento, está saindo mais caro para manter do que proporcionando renda.
“Com o aumento dos alimentos ficou muito difícil trabalhar só com o restaurante. Tive que me desdobrar para procurar outro emprego porque não estava mais conseguindo pagar meu aluguel”, disse.
Quando Jucilene abriu o restaurante, ela costumava gastar R$ 250 por dia para comprar alimentos e descartáveis. Hoje, o custo diário subiu para R$ 400. O negócio é pequeno, mas dava resultado. Com as vendas caindo e os produtos cada vez mais caros, ela pretende procurar outro espaço para aluguel e tentar manter o estabelecimento.
“O nosso foco era ter nossa própria renda, mas ficou muito difícil. Nosso aluguel é de R$ 1.000 e a energia também teve um horror de aumento”, diz.
O Procon (Programa de Proteção e Defesa do Consumidor) informou que recebe, todos os dias, denúncias de preços abusivos de alimentos no Amazonas e faz a comparação mês a mês dos valores, mas diz que as denúncias não se confirmaram. De acordo com a assessoria do órgão, os preços são “justificados pela inflação e pelo mercado”.
Inflação e mercado
O economista e coordenador estadual da Associação Brasileira de Economista pela Democracia, Inaldo Seixas, afirma que o aumento de preços dos alimentos ocorre pela alta exportação dos produtos alimentícios. Com o dólar a R$ 5,36, os produtores estão direcionando suas vendas para o exterior, diminuindo a oferta interna. Com pouca oferta e muita demanda, os preços sobem.
“Esses produtos são considerados ‘commodities’ e são precificados ao preço internacional, em dólar. Como ele está elevado e o produtor local vê que o preço é mlhor lá fora, ele prefere exportar”, explica.
Outro fator é a expectativa criada pelos comerciantes a respeito do aumento da inflação. Seixas explica que, depois de constantes aumentos, há uma consciência coletiva de que deve continuar acontecendo, o que faz os próprios comerciantes aumentarem os preços, prevendo as altas taxas.
“O vendedor já acha que tem inflação alta, então ele coloca um produto lá em cima e entramos num ciclo vicioso em que os comerciantes acreditam que ainflação vai seguir aumentando e acabam retroalimentando com essas suas decisões na formação dos preços”, diz.
O economista critica a falta de uma política de estoque regulador de alimentos, que em governos passados ajudou a diminir o impacto do aumento de preços de alimentos como o arroz. No sistema, grandes volumes de alimentos eram guardados, principalmente grãos, e quando o preço aumentava eram colocados de volta no mercado. ” O governo abandonou isso, não tem recurso, não tem estoque regulador”, diz.
FONTE: Por AMAZONAS ATUAL