O iogurte possui qualidades nutricionais e funcionais, com ação anti-inflamatória, analgésica e antioxidante. No seu portfólio, o Inpa conta com 28 patentes concedidas
Uma raiz com propriedades medicinais utilizada na China, índia e Indonésia é o principal ingrediente de um iogurte capaz de atuar na prevenção de doenças gástricas, como gastrite e úlcera. O iogurte terapêutico, que recebeu recentemente a concessão de patente, utiliza extratos da raiz de Curcuma zerumbet, oferecendo uma forma viável de promover a saúde pelo consumo de alimento nutritivo.
O iogurte funcional foi desenvolvido por Márcia Castro, durante o doutorado, e pelos pesquisadores do Inpa Carlos Cleomir de Souza e Helyde Marinho. O depósito da patente realizado em 2014 é de titularidade do Inpa e da empresa Biozer da Amazônia. Com mais este produto, o Inpa contabiliza 28 patentes concedidas, produtos e tecnologias protegidos e prontos para serem transferidos para empresas interessadas em disponibilizá-los ao mercado consumidor. Veja a Vitrine Tecnológica do Inpa.
Fabricado de forma tradicional, o iogurte contém na sua composição o extrato da Curcuma zerumbet, espécie de planta da família da cúrcuma, sendo um dos 70 tipos de açafrão. No Amazonas, é utilizada como planta ornamental e em forma de chá para problemas estomacais.
“O extrato é rico em compostos bioativos, capazes de proteger a parede do estômago de doenças gástricas, além de permitir que as bactérias lácteas fiquem viáveis por mais de 30 dias, o que pode influenciar positivamente a flora intestinal se consumido todo dia”, destacou Castro, doutora em Biotecnologia pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), com a tese Utilização dos extratos do rizoma da Curcuma zerumbet (Zingiberaceae) para produção de iogurte terapêutico, defendida em 2015 no Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da Ufam. Os pesquisadores do Inpa Carlos Cleomir e Helyde Marinho foram orientador e co-orientadora, respectivamente.
Experimentos e análises
A pesquisa fez experimentos in vitro (laboratório) e in vivo (animais de laboratório) em extratos aquoso e hidroalcoólico obtidos do rizoma da Curcuma zerumbet. Segundo Helyde Marinho, o iogurte também passou, com aprovação de qualidade, pela análise sensorial em humanos, que avalia as características organolépticas dos alimentos, identificando pelos sentidos a cor, o sabor, a textura e o aroma.
Os extratos foram submetidos às análises fitoquímicas e físico-químicas. Depois passaram por testes farmacológicos utilizando ratos e camundongos para saber as atividade anti-úlcera, anti-inflamatória e analgésica com diferentes dosagens.
“Os dois tipos de extratos apresentaram componentes bioativos (antioxidantes) de interesse nutricional e funcional, como flavonóides, antocianinas e outros compostos fenólicos, além dos curcuminoides (curcumina e demetoxicurcumina; e curcuzerona compostos com propriedades farmacológicas)”, explicou Marinho, que é graduada em Farmácia e Bioquímica, com mestrado em Ciência do Alimento e doutora em Saúde Pública.
A atividade antiúlcera do extrato aquoso apresentou efeito a partir da dose 50mg/kg inibindo 57% da formação de úlceras nos animais testados, enquanto a dose 3.500 mg/kg inibiu 94%, apresentando efeito dose-dependente. A atividade antiúlcera do extrato hidroalcoólico mostrou efeito ainda melhor. Com dose a partir de 50 mg/kg e 75 mg/kg a inibição de úlcera gástrica foi de 80% a 94%. Outra vantagem da cúrcuma zerumbet é que os extratos apresentam atividade antinociceptiva, ou seja, analgésica, independente das doses testadas, por terem a capacidade de alterar e influenciar a atividade no cérebro através do sistema nervoso central.
“Estes resultados indicam que os extratos da Cúrcuma zerumbet são potentes suplementos ou ingredientes para serem adicionados em alimentos e obter propriedades funcionais”, ressalta Marinho.
Outras tecnologias
“Buscamos desenvolver produtos como este [iogurte de cúrcuma] que são alimentos funcionais, podendo ajudar inclusive na terapêutica de pacientes com doenças crônicas, como hipertensão, diabetes e cânceres”, disse Carlos Cleomir, líder do Grupo de Pesquisa em Bioprospecção de Produtos Amazônicos e conhecido pelos mais de 20 anos dedicados às pesquisas com o gengibre amargo (Zingiber zerumbet), uma outra planta com muitas propriedades medicinais.
O extrato do Zingiber zerumbet, da qual também se pode fazer iogurte, mas não é mesmo da concessão da patente do iogurte de cúrcuma, é usado em sabonete para acne vulgar, encapsulados e hidrogel para pés diabéticos. Segundo Souza, o hidrogel ainda aguarda autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para poder ser comercializado.
Extensão tecnológica
De acordo com a coordenação de Extensão Tecnológica e Inovação (Coeti), o Instituto soma um total de 66 tecnologias protegidas, das quais 28 já são “concedidas” pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), o que significa que são tecnologias protegidas por meio de patentes e disponíveis para licenciamento às empresas. As outras 38 tecnologias do Inpa estão protegidas por “pedido de patente”, o que garante a expectativa de direito da concessão da tecnologia.
Para a coordenadora da Coeti, Noélia Falcão, a concessão de patentes ao portfólio de tecnologias do Inpa amplia a credibilidade do Instituto e de seus pesquisadores. “Além, é claro, de oferecer à sociedade a oportunidade de licenciar uma tecnologia inovadora e patenteada, que pode direcionar a empresa licenciada à abertura de novos negócios, com a geração de emprego e renda, movimentando a economia e melhorando a qualidade de vida das pessoas”, destacou.
FONTE: Da Redação – Inpa