‘Raízes de árvore’ foi feita em comuna francesa. Pintura é ‘um testamento, uma carta de despedida. Para ele, o bosque simboliza a luta da vida. Os troncos são cortados e, do toco, novos brotos aparecem’, avalia diretor do Instituto Van Gogh
Um pesquisador descobriu onde Vincent Van Gogh pintou “Raízes de árvore”, o último quadro feito no dia de sua morte, por meio de um cartão postal.
O cartão mostra um matagal com as mesmas raízes retratadas na obra e foi descoberto pelo diretor científico do Instituto Van Gogh, Wouter van der Veen. Trata-se de Auvers-sur-Oise, um vilarejo francês ao norte de Paris, onde o pintor passou seus últimos dias.
A descoberta foi feita quando o diretor científico classificava documentos em sua casa durante o confinamento, explicou. “Meus olhos foram atraídos por um detalhe em um cartão postal, um detalhe que aparece na última pintura de Van Gogh. A configuração das raízes e troncos no cartão postal corresponde à da pintura.”
No cartão postal, que data de 1900-1910, há uma colina coberta por um bosque com troncos e raízes. Em seguida, este especialista em Van Gogh apoiou sua descoberta em um livro, “Attaqué à la racine” (“Ataque na raiz”, em tradução livre).
A partir de então, foi inaugurado, em Auvers-sur-Oise, o local exato da realização da obra-prima, que será protegido por uma estrutura de madeira e poderá se tornar um local de peregrinação, a 150 metros da estalagem onde residia o pintor, que sofria ataques de loucura.
Essa tela “deu origem a todo tipo de teoria, por exemplo, que ele teria assinado uma pintura marcando o início da arte abstrata, da nova arte”, observou o pesquisador.
“Esta tela, pintada pouco antes de ele disparar um tiro no estômago, em 27 de julho de 1890, era indecifrável, porque era impossível precisar o local da realização. Queriam que Van Gogh fosse vítima da sociedade e não o autor de sua vida e morte”, observou ele.
Mas essa pintura é “um testamento, uma carta de despedida. Para ele, o bosque simboliza a luta da vida. Os troncos são cortados e, do toco, novos brotos aparecem”.
“Há uma consistência: é o tema da vida e da morte. Por um ano, o suicídio já era uma opção para Van Gogh. Isso elimina todas as teorias que não ajudam sua memória, como a que alega que ele foi acidentalmente morto por crianças portando uma pistola”, disse o especialista holandês.
“O que é extraordinário é que o toco principal que encontramos na pintura ainda é visível hoje no mato”, 130 anos depois, segundo Wouter van der Veen.
FONTE: G1/Por France Presse