Túlio Silveira representou a empesa na negociação da vacina indiana da Bharat Biotech com o Ministério da Saúde
A CPI da Pandemia ouve nesta quarta-feira (18) Túlio Silveira, advogado da Precisa Medicamentos. Ele é o representante legal da empresa na negociação da vacina indiana Covaxin, da Bharat Biotech, com o Ministério da Saúde.
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Apesar de responder aos questionamentos iniciais dos relator Renan Calheiros (MDB-AL) sobre sua participação no fechamento de contrato da Covaxin, Túlio Silveira parou de dar esclarecimentos aos senadores em todos os assuntos.
Isso porque Silveira comparece à CPI munido de um habeas corpus concedido pelo ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), que permite que ele não responda perguntas que possam incriminá-lo.
No entanto, o amplo silêncio a todos os tipos de questionamento gerou incômodo e motivou o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), a interromper o depoimento por 30 minutos para “tomar providências” sobre assunto.
A oitiva de Túlio Silveira atende a requerimento do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e substitui a acareação cancelada entre o ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni, e o deputado federal Luís Miranda (DEM-DF).
Resumo da CPI da Pandemia:
- Advogado da Precisa permanece em silêncio ao ser questionado sobre Covaxin
O advogado Túlio Silveira permaneceu em silêncio em todas as perguntas do relator Renan Calheiros (MDB-AL) quando indagado sobre trâmites e negociações da negociação de vacinas entre o Ministério da Saúde e a Precisa Medicamentos, bem como a relação da Precisa com a Bharat Biotech.
Entre as perguntas, Calheiros questionou quando começaram as negociações da Precisa com a Bharat Biotech e se o contrato preveria o pagamento à Precisa ou a Bharat Biotech, farmacêutica responsável pela Covaxin.
O silêncio constante do advogado incomodou os outros senadores, que alegaram que ele poderia usar de tal prerrogativa apenas em fatos que o incriminassem ou dissessem respeito à Precisa.
“O depoente está ficando em silêncio e a decisão do ministro é clara. Ele tem obrigação de falar a essa comissão como testemunha em tudo que não o incrimina”, disse Eliziane Gama (Cidadania-MA). “Se ele não responde, em tese, ele poderá ter relação direta, portanto de se incriminar. Que fique registrado isso. A decisão é clara do ministro, exclusivamente aos fatos que o incriminem ele pode ficar em silêncio”, disse a senadora, que assumia a presidência da Comissão no momento.
O advogado de Túlio rebateu. “Ele não é obrigado a indicar isso. Ele vai se limitar a não responder o que considera que pode lhe gerar prejuízo pelo sigilo profissional e a não autoincriminação”, argumentou.
Ao fim dos questionamentos, Renan Calheiros também mostrou uma imagem publicada nas redes do advogado na qual ele aparece com escritos de “eu apoio o tratamento precoce” e apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nas eleições de 2018. Túlio Silveira permaneceu em silêncio.
“Esse silêncio é incriminador. Ele não respondeu também às perguntas que não tinham relação com a Covaxin”, criticou Calheiros.
- ‘Sou advogado, não participo de negociações de vacinas’, diz Silveira
Ao ser questionado pelo relator da CPI se participava das negociações da Precisa com o governo Federal, o advogado Túlio Silveira se mostrou incomodado com o questionamento e respondeu que não é sua função negociar contratos.
“Sou advogado da Precisa e exerço a defesa da companhia. Com todo respeito eu não participo de negociações. Eu assisto a companhia nos negócios jurídicos”, afirmou.
Interrompido pelo presidente da CPI, senador Omar Aziz, que disse não haver na pergunta qualquer tipo de acusação de querer obter vantagens, Silveira mudou o tom e voltou a falar sobre a questão.
“Peço escusas se o tom foi rude. Não participo de negociações, mas assisto a companhia como advogado. Exerço a defesa jurídica”, disse.
- Renan diz que Ricardo Barros passa a ser investigado pela CPI
Antes de iniciar seus questionamentos ao depoente, o relator da CPI da Pandemia, senador Renan Calheiros (MDB-AL) afirmou aos demais membros da comissão que considera necessário aprofundar as investigações sobre os atos do líder do governo Bolsonaro, deputado Ricardo Barros (PP-PR).
“Tendo em vista veementes indícios de cometimento de crimes, atos danosos ao patrimônio público e atos de improbidade administrativa, decido atribuir a Ricardo Barros, líder do governo na Câmara, a condição de investigado pela CPI”, disse Renan.
Ele afirmou que precisam ser analisadas as ligações e relações políticas e empresariais de Barros, assim como o que chamou de “ausência de atitudes corretivas” do deputado sobre negociações e possíveis associações com servidores investigados pela CPI.
- ‘Ficarei em silêncio por respeito ao sigilo profissional’, diz Silveira
Ao receber a palavra para fazer uma fala inicial de até 15 minutos – e depois de se recusar a prestar compromisso de falar a verdade na CPI –, Túlio Silveira afirmou que ficaria em silêncio na CPI.
“Em respeito a vossa excelência, a essa Casa, exercerei o meu direito inalienável ao silêncio porque estou na condição de investigado haja visto as medidas cautelares que foram imputadas contra mim”, disse o defensor da Precisa.
“Meus sigilos foram quebrados por essa CPI. Vários ofícios foram encaminhados para as entidades correspondentes e me encontro, de fato, como investigado. Fui contratado como advogado, sou advogado da Precisa Medicamentos, e permanecerei em silêncio em homenagem ao direito inalienável do sigilo cliente-advogado”, completou.
O presidente da CPI, Omar Aziz, havia pedido que Silveira não fizesse como Carlos Wizard, que após a fala inicial à CPI se recusou a responder praticamente todos os questionamentos feitos pelos senadores.
- Defesa pede que CPI reconsidere convocação de Silveira
O defensor que acompanha Túlio Silveira, identificado apenas como Dr. Toledo, pediu a palavra no início da oitiva para pedir que a CPI reconsidere a possibilidade de ouvir o representante da Precisa, “tendo em vista que o objeto [da oitiva] envolve todos os fatos relacionados ao exercício da profissão de advogado”.
“Ou, que caso contrário, ao menos respeito o direito ao silêncio sem sancioná-lo. O prejuízo para democracia é imensurável ao se obrigar um advogado a falar sobre fatos que tomou conhecimento”, afirmou o defensor.
Após a manifestação do advogado, a senadora Simone Tebet (MDB-RS), líder da bancada feminina no Senado, fez uso de uma questão de ordem para explicar o objetivo da convocação de Silveira pela CPI.
“Quem pediu para que o Dr. Túlio fosse convidado por uma simples razão: não achei no processo que me entregaram nenhuma procuração ad judicia do Dr. Túlio comprovando que ele era advogado da Precisa quando atravessou uma série de meios no contrato da Covaxin no Ministério da Saúde”, disse ela.
“Não vamos perguntar nada que interfira no sigilo do cliente com o advogado, mas até para que ele possa se eximir desse imbróglio jurídico que foi criado pelo contrato da Covaxin”, completou a senadora.
O pedido da defesa foi indeferido pelo presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM).
“Sua questão de ordem não pode ser maior que a decisão do ministro [Luiz] Fux, presidente do STF. Se tiver que recorrer, recorra ao ministro Fux, não à mesa da CPI.”
FONTE; CNN BRASIL