O diretor-presidente do Grupo Samel, Luís Alberto Nicolau, afirmou em entrevista ao ATUAL na quarta-feira (13) que a rede de hospitais em Manaus atuou apenas como campo de estudo na pesquisa com o medicamento proxalutamida no tratamento da Covid-19, que teve a participação de pacientes internados em unidades da Samel.
Em declaração no último sábado (9), a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) considerou a denúncia de 200 mortes de voluntários do estudo uma violação aos direitos humanos e uma das infrações éticas mais graves e sérias da história da América Latina. A denúncia foi feita pela Conep (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa) à Procuradoria-Geral da República em setembro.
De acordo com Luis Alberto Nicolau, a classificação como campo de estudo foi confirmada pela Conep. “Inclusive nós pedimos uma declaração do Conep se tinha alguma pesquisa da Samel ou se a Samel era uma pesquisadora, porque estava na imprensa, ou patrocinadora de estudo, e eles falaram que não. O que a gente já sabia, que era não”, disse.
Alberto Nicolau afirma que em fevereiro a Samel foi procurada pelos médicos pesquisadores Flávio Cadegiani e Andy Goren que, segundo ele, trouxeram a pesquisa aprovada pela Conep com a proxalutamida. “Nós pedimos para o nosso corpo médico e científico avaliar. Avaliaram como bom, promissora. Claro que a gente quando vai começar uma pesquisa ninguém tem o resultado, a gente vai ter que fazer”, informou.
“E começamos a ser campo de estudo. O que é que eles pediram para a gente? Para a gente ser o campo de estudo da pesquisa, porque o ‘cara’ que fez a pesquisa, o Dr Flávio, não tem hospital, ele tem um consultório”, disse.
Segundo Alberto Nicolau, os pesquisadores queriam fazer testes com a variante P1 da Covid-19, identificada pela primeira vez no Amazonas.
O presidente da Samel alega que durante o andamento da pesquisa, após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se manifestar a favor, houve mudança no posicionamento do presidente da Conep, Jorge Venâncio, em relação ao estudo.
“Até o momento ele [Jorge Venâncio] era um entusiasta, era a melhor pesquisa do mundo. Quando o Bolsonaro falou [sobre a pesquisa] ele passou a ser contra e começou a se pegar nessas picuinhas, como ‘ah, nunca falou da eficácia’. Nunca veio aqui na Samel, nunca pediu um documento da Samel, de nenhum hospital, de ninguém”, criticou.
Em nota divulgada no Twitter na segunda-feira (11), Flávio Cadegiani, pesquisador principal do estudo, também acusa a Conep de mudar o comportamento em relação à pesquisa após manifestação favorável de Bolsonaro.
Sobre a denúncia de 200 mortes no estudo, Alberto Nicolau diz que foram disseminadas notícias falsas atribuindo ao uso do placebo (substância que não contém ingredientes ativos, feito para ter gosto e aparência idêntica da droga real a ser estudada) na pesquisa.
“Aí começaram a dizer que o placebo matou 200 pessoas. Primeiro falaram que era a droga. Como eles viram que não tinha como ‘colar’ isso, por quê? Porque só no Brasil estão sendo conduzidos três estudos com autorização da Anvisa”, disse.
Na nota divulgada, Flávio Cadegiani afirma que todas as 200 mortes foram em decorrência da Covid-19 e não tiveram relação com o medicamento pesquisado.
Alberto Nicolau nega que todos os óbitos tenham ocorrido na rede Samel. “Primeiro que essas 200 mortes obviamente que não foram no meu hospital, nós fomos os que tiveram menos óbitos no Brasil pelo menos, no mínimo no Brasil”. Segundo ele, a pesquisa foi feita no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e em oito municípios do Amazonas.
O presidente da Samel não sabe dizer quantos pacientes dos três hospitais da rede participaram da pesquisa, mas estima que seja um pouco mais de 100 dos 600 participantes do estudo. “A pesquisa quem tem na verdade é o pesquisador né. Porque ela é uma pesquisa padrão ouro. Ela é duplo-cego, randomizada e placebo controle. Então eu não tinha como saber quem tomou remédio, quem não tomou. Eu tinha como saber os resultados”, afirmou.
Alberto Nicolau defende a eficácia da proxalutamida no tratamento da Covid-19. “Nós continuamos dizendo que o estudo foi altamente positivo. O estudo que a gente viu, que os nosso médicos compararam não só no período que os pacientes estavam internados como no acompanhamento pós-alta foram extremamente positivos”, declarou. “Foi 77% de diminuição de mortes. Está publicado lá no Clinical Trials”.
A reportagem do ATUAL solicitou posicionamento do Conep, mas não recebeu resposta até a publicação da matéria.
FONTE: Por AMAZONAS ATUAL