Peng Shuai está desaparecida desde o dia 2 de novembro, quando postou uma denúncia de agressão sexual contra um ex-líder do governo chinês
A superestrela do tênis Naomi Osaka se tornou a mais recente atleta a expressar preocupação com Peng Shuai, que não tem sido vista em público desde que acusou um ex-líder do governo chinês de agressão sexual.
“A censura a qualquer custo nunca é certa. Espero que Peng Shuai e sua família estejam bem. Estou em choque com a situação atual e estou enviando amor e luz para ela”, disse Osaka em sua conta no Twitter na terça-feira (16).
Ela incluiu a hashtag #WhereIsPengShuai.
Peng, uma das estrelas do tênis mais conhecidas da China, acusou o ex-vice-premiê Zhang Gaoli de forçá-la a fazer sexo em sua casa três anos atrás, de acordo com um perfil da atleta em uma rede social chinesa.
A lenda do tênis e campeã de 39 grand slams, Billie Jean King, disse no Twitter: “Esperamos que Peng Shuai seja encontrada em segurança e que suas acusações sejam amplamente investigadas”.
A ex-número 1 do mundo, Chris Evert, também se manifestou: “essas acusações são muito perturbadoras”, disse ela em um post no Twitter. “Conheço Peng desde os 14 anos; todos devemos nos preocupar; isso é sério; onde ela está? Ela está segura? Agradecemos qualquer informação”, disse ainda a ex-tenista.
No domingo, a entidade máxima do tênis feminino, WTA, pediu ao governo chinês que investigue as acusações, insistindo que a ex-jogadora de duplas seja “ouvida, não censurada”.
Em um comunicado, o presidente e CEO da WTA, Steve Simon, disse que as acusações de Peng despertam “profunda preocupação”, acrescentando que as alegações devem ser investigadas “de forma integral, justa, transparente e sem censura”.
“Peng Shuai, e todas as mulheres, merecem ser ouvidos, não censuradas”, disse Simon. “A acusação dela sobre a conduta de um ex-líder chinês envolvendo agressão sexual deve ser tratada com máxima seriedade.”
Suposta carta de Peng
O canal estatal chinês de televisão CGTN divulgou, mais tarde, um e-mail supostamente de Peng que afirma que ela está bem e parece voltar atrás em suas acusações. No entanto, o e-mail não foi verificado pela CNN e a CGTN não forneceu nenhum vídeo ou evidência que permitissem identificar o paradeiro de Peng.
O suposto e-mail diz: “Em relação às notícias recentes divulgadas no site oficial da WTA, o conteúdo não foi confirmado ou verificado por mim e foi divulgado sem meu consentimento. A informação nesse comunicado, incluindo a alegação de agressão sexual, não é verdadeira. Não estou desaparecida nem insegura. Tenho descansado em casa e está tudo bem.”
“Se a WTA publicar mais notícias sobre mim, verifique comigo e divulgue com meu consentimento. Como tenista profissional, agradeço a todos pela companhia e consideração. Espero promover o tênis chinês com todos vocês, se tiver essa chance no futuro. Espero que o tênis chinês fique cada vez melhor”, continua.
A CNN tentou entrar em contato com a WTA para confirmar se esse e-mail foi recebido. A CGTN não explicou como obteve a carta.
A mais importante liga mundial de tênis masculino, ATP Tour, disse em um comunicado na segunda-feira (15) que está “animada pelas recentes garantias recebidas pela WTA de que (Peng) está segura”. A associação de tênis masculino disse ainda que se sente “responsável e continuará monitorando a situação de perto”, mas não forneceu mais detalhes sobre a veracidade das garantias.
“Apoiamos totalmente o pedido da WTA por uma investigação completa, justa e transparente das alegações de agressão sexual contra Peng Shuai”, disse o presidente da ATP, Andrea Gaudenzi, em comunicado.
Escândalo politicamente sensível
As explosivas alegações de Peng contra um ex-líder de estado repercutiram em toda a internet chinesa, apesar das tentativas das autoridades de eliminar qualquer menção a um escândalo politicamente sensível.
Zhang, de 75 anos, fez parte do Comitê Permanente do Politiburo, o principal órgão de liderança do Partido Comunista Chinês (PCCh), que inclui as sete principais figuras políticas do país. Ele integrou o núcleo do poder chinês entre 2012 e 2017, durante o primeiro mandato de Xi Jinping, antes de se aposentar como vice-primeiro-ministro, em 2018.
Em sua postagem, que é uma carta aberta a Zhang, a tenista de 35 anos alegou ter tido um relacionamento com idas e vindas com o político chinês, que durou pelo menos 10 anos.
“Por que você teve que voltar para mim, me levou para sua casa para me forçar a fazer sexo com você?” ela escreveu.
Peng disse que não tinha provas de suas alegações e afirmou que Zhang sempre teve medo de que ela fizesse registros.
“Eu não poderia descrever como eu estava enojada, e quantas vezes eu me perguntei se ainda sou humana? Eu me sinto como um cadáver ambulante”, escreveu Peng.
A CNN não pode verificar de forma independente a postagem de Peng e entrou em contato com ela e com o Conselho de Estado da China, que lida com as consultas à imprensa.
Nesta quarta-feira (17), a China evitou qualquer pergunta da imprensa sobre as acusações de Peng contra Zhang.
Durante uma entrevista coletiva, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian, foi questionado sobre as preocupações da WTA sobre “a segurança e o paradeiro” de Peng, e se o governo planejava tomar alguma medida.
“Você acha que o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores é onipotente?” Zhao respondeu. “Você deveria perguntar ao departamento competente”, acrescentou, evitando a pergunta.
Apesar de os repórteres terem reclamado da falta de resposta do Ministério da Segurança Pública, o porta-voz disse que “não era uma questão diplomática” e, por isso, não iria comentar.
FONTE: Por CNN