Feito por amazonenses, curta-metragem “Abebé” reúne mulheres de diferentes áreas que contam como foi o processo de aceitação de cada uma.
“É preciso falar da nossa relação com a nossa estética através do cabelo, da nossa história, contexto histórico, social, cultural no Brasil, em que pessoas negras estão inseridas, por meio da arte”.
A afirmação é da produtora cultural Jéssica Dandara, uma das criadoras e produtoras do curta-metragem “Abebé”, que levanta um debate sobre aceitação e valorização da estética negra. Junto com a diretora e artista Keila Serruya, a produtora criou um curta-metragem de seis minutos, que reuniu artistas, trancistas e educadoras no debate em comum.
“A princípio, a ideia não era bem impactar. Mas falar sobre narrativas de vitória para outras pessoas negras, contribui para a construção da nossa autoestima e o projeto Encrespa Geral, desde o início, sempre teve essa intenção”, afirma Dandara.
No curta-metragem, as mulheres são colocadas em frente a espelhos e contam histórias pessoais. Elas relembram e falam das histórias, enquanto têm os cabelos produzidos por trancistas. Apesar de terem imagens divulgadas, os nomes das participantes não foram divulgados durante os depoimentos.
Confira relatos:
“O meu cabelo era encaracolado e com o meu pai negro e minha mãe índia, eu acabei puxando para o cabelo do meu pai. Pelo que eu via no reflexo, no espelho, eu não me sentia confortável com ele”, diz uma das entrevistadas durante o curta.
“Um dia eu olhei para o espelho e parecia que tinha alguma alguma coisa de errado, parecia que meu cabelo não fazia parte de mim, não só esteticamente, mas na minha identidade, eu não me identificava com ele. Porque mesmo que eu lide bem com meu cabelo, as pessoas ainda questionam, sempre vai aparecer uma pessoa que vai tentar me colocar para baixo”, disse outra participante.
“Eu acho que o maior problema que a gente já passou nesse contexto todo é esse apagamento do que somos, dessa força descomunal que a nossa cultura tem, que foi engolida e agora a gente precisa reconstruir tudo isso e dizer: ‘Olha, tá tudo bem com esse teu cabelo crespo e tá tudo bem você ter cabelo trançado”, afirma mais uma entrevistada.
Sobre o curta
O curta é inspirado em um instrumento chamado Abebé, um espelho utilizado pela orixá Oxum, importante figura presente em religiões de matrizes africanas. Segundo a crença, o espelho revela identidades, além de ser um instrumento de guerra.
O curta “Abebé” surgiu a partir de um diálogo entre as amigas Dandara e Keila, durante a realização de um projeto antigo em Manaus, o “Encrespa Geral”. Desde 2013, o projeto busca incentivar o uso do cabelo natural na comunidade negra, valorizar a identidade e promover discussões acerca do racismo.
“Esse curta foi produzido por mim, mas é uma realização do Encrespa Geral, que sempre teve esse intuito de reunir pessoas negras que passam em vivências diversas sobre o mesmo tema, não somente em relação à estética, mas também na questão racial, e eu acho que isso gera reflexão sobre o tema. É importante também que essa produção seja vista por outras pessoas que estão fora da nossa bolha de discussão, tias, avós, homens negros, para gerar um debate e contribuir na construção dessas autoestimas de forma coletiva”, ressalta.
Para conferir a obra completa, basta acessar o canal do projeto Encrespa Geral, no Youtube https://youtu.be/lDmUQe6cKmU.
FONTE: Por G1 AM