Na edição regular, aplicada em novembro de 2021, os inscritos dissertaram sobre ‘invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil’.
O tema da redação da reaplicação do Enem 2021, realizada no domingo (9), foi “Reconhecimento da contribuição das mulheres nas ciências da saúde no Brasil”.
Fizeram a prova os alunos que perderam as provas regulares em novembro passado, quem teve isenção na edição de 2020, mas não conseguiu comparecer e pessoas privadas de liberdade (PPL). Também fizeram o exame estudantes do Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio, que não conseguiram fazer a prova por causa de uma operação policial no dia do exame, que terminou com nove mortes.
Na edição regular, aplicada em novembro de 2021, os inscritos dissertaram sobre “invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil”, tema considerado “bastante importante” por professores ouvidos pelo g1 na ocasião.
Para Lennon Medeiros, professor de redação do Descomplica, os temas da prova regular e da reaplicação não tiveram proximidade temática tão clara para os candidatos. Ainda assim, há um elo: invisibilidade social.
“Na prova original, tivemos o tópico da invisibilidade social, que volta a aparecer na reaplicação, focado na representatividade das mulheres cientistas. Não é tão intuitivo a quem não tiver atento, mas é essa similaridade que liga as propostas”.
O professor pondera, por outro lado, que não se pode dizer que um dos temas foi mais complexo que o outro.
“É sempre complicado comparar a dificuldade dos temas, mas acredito que ambos são equivalentes em termos de complexidade. As duas propostas cobravam conhecimentos e capacidades semelhantes dos alunos. Ainda que, claro, ao falarmos de ciências da saúde, durante a pandemia, seja estabelecida mais facilmente uma proximidade com o candidato, a discussão — representatividade na ciência — está distante.”
Essa proximidade também é apontada por Vinicius Beltrão, coordenador de Ensino e Inovações do SAS Plataforma de Educação. Mas, para ele, este fator faz do tema da reaplicação menos complexo do que o da original.
“Falar da representatividade das mulheres na sociedade está mais presente nas discussões diárias de um candidato do Enem. Se pensarmos também que o tema falava em ‘saúde’, a proximidade é ainda maior, por conta da pandemia. Ainda que seja um aluno com pouco repertório, alguma coisa ele vai conseguir dissertar sobre.”
Ainda assim, Beltrão ressalta que o exame cobrou dos candidatos dois vieses de argumentação, o que aumenta o grau de dificuldade da redação.
“O aluno precisa dissertar sobre o social e sobre o científico, focado na saúde. É preciso estabelecer dois argumentos que conversem entre si. No contexto em que vivemos, por razões óbvias, é muito intuitivo ao aluno que foque a argumentação na questão da pandemia, falando sobre a atuação das mulheres na pandemia. Mas a proposta vai além e cobra discussões sociais que extrapolam esse primeiro aspecto. É menos simples do que parece e exige atenção redobrada dos candidatos. Quem se limitar a só uma das partes vai ter prejuízos na nota final.”
Para Milton Costa, professor de redação da Oficina do Estudante de Campinas (SP), o tema demanda que os candidatos proponham intervenções à questão da invisibilidade, como aconteceu na primeira aplicação.
Os alunos devem evitar soluções simplistas, como “a mera ‘publicização’ dos nomes [de cientistas mulheres brasileiras] ou homenagens palacianas, mas sim o investimento financeiro maciço no caminho aberto por essas cientistas”.
Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 6.986 candidatos se inscreveram para a reaplicação. Também fizeram a prova 280.145 participantes que tiveram isenção na taxa de inscrição de 2020, mas não compareceram à prova naquele ano. Esse grupo conseguiu na Justiça o direito de se inscrever na reaplicação. E ainda tiveram outros 54.227 candidatos, que fizeram a versão PPL do exame, voltado para pessoas privadas de liberdade.
Temas da redação dos últimos 5 anos
- 2020: “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”
- 2019: “Democratização do acesso ao cinema no Brasil”
- 2018: “Manipulação do comportamento de usuário pelo controle de dados na internet”
- 2017: “Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”
- Reaplicação 2016: “Caminhos para combater o racismo no Brasil”
- 2016: “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”
Enem PPL (para Pessoas Privadas de Liberdade):
- PPL 2020: “A falta de empatia nas relações sociais no Brasil”
- PPL 2019: “Combate ao uso indiscriminado das tecnologias digitais de informação por crianças”
- PPL 2018: “Formas de organização da sociedade para o enfrentamento de problemas econômicos no Brasil”
- PPL 2017: “Consequências da busca por padrões de beleza idealizados”
- PPL 2016: “Alternativas para a diminuição do desperdício de alimentos no Brasil”
FONTE: Por G1