Filme é dirigido pelo lituano Mantas Kvedaravicius, que foi morto no início de abril em um ataque russo a Mariupol
Depois do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, se pronunciar durante a cerimônia de abertura do Festival de Cannes 2022 e do diretor russo Kirill Serebrenikov pedir que não seja feito boicote a artistas russos, foi a vez do aguardado “Mariupolis 2” levar a guerra ao festival, que é famoso por seu glamour, mas que em suas mostras, tanto competitivas quanto paralelas, sempre valorizar o cinema político e humanista.
Assim é “Mariupolis 2”, o primeiro filme que trata diretamente da questão da guerra da Ucrânia a ser exibido em Cannes 2022, trazendo para o evento a atmosfera de Mariupol, cidade portuária no sudeste da Ucrânia e que foi fortemente atingida por bombardeios russos.
Dirigido pelo lituano Mantas Kvedaravicius, que foi morto no início de abril em um ataque russo a Mariupol, o filme traz, em quase duas horas, o cotidiano de quem não deixou a cidade e resiste.
O que se mostra é o cotidiano de quem quer sobreviver, entre a organização das idas ao banheiro, o barulho constante das bombas e o preparo das refeições.
Não há espaço para lutas heroicas e nem cenas de ação, muito menos para o ritmo acelerado dos noticiários. “Mariupolis 2” traz a guerra em sua rotina, em suas horas mortas, sua espera, revelando que o que o conflito deixa, além da destruição, é a ausência da vida de uma cidade.
O barulho das bombas é constante, o caos deixado pelos ataques do exército russo, é generalizado e uma cena de um homem varrendo um chão, tentando dar alguma ordem a um cenário destroçado, é melancólico e tão forte quanto uma cena de batalha.
Kvedaravicius, que também era antropólogo cultural formado em Oxford, morreu justamente tentando deixar a cidade atacada. Sua noiva Hanna Bilobrova terminou o filme, que emociona Cannes com o olhar sensível do diretor.
Na cidade francesa para a première do filme, que teve sessões na quinta (19) e na manhã de sexta (20), sem glamour e com um semblante endurecido, Hanna carregava a mochila do diretor.
“Me faz sentir que ele ainda está comigo. Esta mochila era como se fosse um pedaço dele. Trouxe de Mariupol e carrego sempre comigo”, afirmou Hanna, que conseguiu deixar a cidade e terminar de editar o longa.
O diretor sempre se interessou pelos temas sociais e em seu primeiro filme, “Barzakh”, competiu no Festival de Berlim. Em seguida, dirigiu “Mariupolis” (2016), que retrata o cotidiano da cidade no início dos conflitos em Donbass, e “Parthenon” (2019).
Hanna Bilbrova, que assina a codireção do filme, estava com ele no momento do ataque e conseguiu salvar o material e terminar de editar o longa com o montador Dounia Sichov. “Era crucial mostrar este filme. A gente precisava terminá-lo”, afirmou Hanna.
FONTE: Por CNN