O presidente russo, Vladimir Putin, prestou homenagens ao último líder soviético, Mikhail Gorbachev, que morreu na terça-feira (30). No entanto, o presidente russo não irá comparecer ao funeral, devido a restrições de agenda, segundo o Kremlin.
A televisão estatal mostrou, nesta quinta-feira (1º), Putin colocando rosas vermelhas solenemente ao lado do caixão de Gorbachev – deixado aberto como é tradicional na Rússia – no Hospital Clínico Central de Moscou, onde morreu aos 91 anos. Putin fez um sinal da cruz no estilo ortodoxo russo antes de tocar brevemente na borda do caixão.
“Infelizmente, o horário de trabalho do presidente não permitirá que ele faça isso em 3 de setembro, então ele decidiu fazê-lo hoje”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, à imprensa.
Gorbachev não receberá as honras de Estado concedidas a Boris Yeltsin.
O porta-voz do Kremlin disse que a cerimônia de Gorbachev teria “elementos” de um funeral de Estado e que o Estado estava ajudando a organizá-la.
No entanto, será um contraste marcante com o funeral de Yeltsin, que foi fundamental para deixar Gorbachev de lado quando a União Soviética se desfez e escolheu Putin, um oficial de inteligência da KGB, como o homem mais adequado para sucedê-lo.
Gorbachev, idolatrado no Ocidente por permitir que a Europa Oriental escapasse do controle comunista soviético, mas não amado em casa pelo caos que suas reformas “perestroika” desencadearam, será enterrado no sábado (3) após uma cerimônia pública no Salão das Colunas de Moscou.
O grande salão, à vista do Kremlin, recebeu os funerais dos líderes soviéticos Vladimir Lenin, Josef Stalin e Leonid Brezhnev. Gorbachev receberá uma guarda de honra militar – mas seu funeral não será de Estado.
Quando Yeltsin morreu em 2007, Putin declarou um dia nacional de luto e, ao lado de líderes mundiais, participou de um grande funeral de Estado na Catedral de Cristo Salvador, em Moscou.
A intervenção da Rússia na Ucrâniaparece destinada a reverter, pelo menos em parte, o colapso da União Soviética que Gorbachev não conseguiu evitar em 1991.
A decisão de Gorbachev de deixar os países do bloco comunista soviético do pós-guerra seguirem seu próprio caminho e a reunificação da Alemanha Oriental e Ocidental ajudou a desencadear movimentos nacionalistas dentro das 15 repúblicas soviéticas que ele não conseguiu reprimir.
Cinco anos depois de assumir o poder em 2000, Putin chamou a dissolução da União Soviética de “a maior catástrofe geopolítica do século 20”.
Putin levou mais de 15 horas após a morte de Gorbachev para publicar uma mensagem contida de condolências que dizia que Gorbachev teve um “enorme impacto no curso da história mundial” e “compreendeu profundamente que as reformas eram necessárias” para enfrentar os problemas da União Soviética nos anos 1980.
Sobre o funeral
Gorbachev será enterrado ao lado de sua esposa Raisa, que morreu em 1999, disse a mídia estatal russa RIA Novosti no início desta semana, citando a fundação Gorbachev. O cemitério histórico é o local de descanso final de muitos russos notáveis, incluindo os escritores Mikhail Bulgakov, Anton Chekhov e Nikolai Gogol, os compositores Sergei Prokofiev e Dmitri Shostakovich e os ex-líderes Yeltsin e Nikita Khrushchev.
Gorbachev tornou-se mais crítico de Putin e seu regime cada vez mais restritivo nos últimos anos, enquanto viajava pelo mundo promovendo a liberdade de expressão e a democracia como parte de sua fundação. Enquanto isso, Putin culpou Gorbachev pelo fim da URSS, que ele considera a “maior catástrofe geopolítica” do século 20.
E embora o próprio Gorbachev não tenha comentado a decisão de Putin de invadir a Ucrânia, sua fundação pediu negociações de paz, dizendo que “não há nada mais precioso no mundo do que vidas humanas”.
É improvável que Gorbachev receba muitos convidados estrangeiros em seu funeral. Em retaliação às sanções ocidentais, impostas à Rússia por países por causa da guerra na Ucrânia, Moscou proibiu centenas de autoridades estrangeiras de entrar no país.
A longa lista de líderes atualmente barrados no país inclui o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, o secretário de Estado Antony Blinken e o secretário de Defesa Lloyd Austin, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson e sua antecessora Theresa May, bem como sua provável sucessora Liz Truss, o primeiro-ministro do Japão Fumio Kishida, o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau e muitos outros.
FONTE: Por REUTERS/Foto:REUTERS