O Departamento Nacional de Trânsito (Dnit) descartou a ideia de instalar uma ponte metálica no trecho do Rio Curuçá onde a antiga estrutura desabou há 13 dias. A informação é do governador do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), que se reuniu com o Ministro de Infraestrutura na segunda-feira (10).
O g1 procurou o Dnit, e aguarda retorno.
A BR-319 é a principal ligação terrestre do Amazonas com outros estados fora da Região Norte. É o caminho usado por caminhoneiros para transporte de alimentos, medicamentos e combustíveis.
Com os rios em período de vazante (seca), a situação se agrava, já que, em alguns trechos do Amazonas há restrição para navegação.
Sem prazo para construção das pontes
Na segunda-feira, o governador do Amazonas participou de reunião com o ministro da Infraestrutura, Marcelo Sampaio, na sede do ministério, em Brasília. Após sair do encontro, Wilson Lima informou, em entrevista à Rede Amazônica, que a instalação da ponte sobre o Rio Curuçá está descartada pelo Dnit.
“Esse era o plano A, de acordo com o Dnit, mas não foi possível. Houve uma dificuldade muito grande em razão da logística. Por isso, eles optaram por colocar balsas”, disse o governador.
No dia 30 de setembro, dois dias depois da queda da primeira ponte, o governo estadual informou que uma estrutura metálica provisória seria construída no local em menos de duas semanas para o tráfego de veículos. O serviço ficaria a cargo do Exército Brasileiro (EB), sob a coordenação do Dnit.
Na quinta-feira (6), dois dias antes da segunda ponte desabar, o Dnit confirmou ao g1 que uma estrutura metálica seria montada sobre o Rio Curuçá. “O Dnit trabalha na conclusão dos acessos nas margens do rio Curuçá para receber a estrutura da ponte. Logo após, será iniciada a montagem da estrutura metálica em parceria com o Exército Brasileiro”, dizia a nota.
De acordo com o órgão federal, a ponte metálica seria provisória. “O Dnit trabalha na decretação de emergência e nas tratativas para reconstrução completa da ponte”, afirmou.
Passadas duas semanas, o trecho do Rio Curuçá segue bloqueado para o tráfego de veículos e pessoas. O problema na rodovia federal ser agravou com a queda da segunda ponte.
Agora, o Governo do Amazonas informou que os dois trechos vão passar por medidas paliativas. A ponte sobre o Rio Curuçá deve receber balsas para a travessia dos veículos. Já na Ponte Autaz Mirim, o Dnit pretende fazer um aterro por dentro do rio com seixo, brita e outras pedras, segundo o governador do Amazonas.
“As balas vão chegar pelo Careiro da Várzea. Serão embarcadas em veículos. De lá, elas serão transportadas até a ponte do Curuçá. Elas vão ser colocadas no rio para permitir a passagem dos veículos”, disse Wilson Lima, após a reunião com o ministro dos transportes.
De acordo com o Governo do Amazonas, essa conexão, com estruturas provisórias, deve acontecer no prazo de até 15 dias. “No Rio Curuçá, a ponte do Exército será montada já nos próximos dias. A estrutura está vindo de Rondônia”, informou o governo estadual, sem especificar as datas.
O Estado afirmou, ainda, o diretor-geral do Dnit, general Santos Filho, informou que o estudo para a reconstrução das pontes está em andamento. A estimativa é que as obras nas duas pontes custem R$ 50 milhões.
“A equipe já fez a batimetria e a sondagem, para que termine o projeto o mais rápido possível”, disse o Governo do Estado. Batimetria é a técnica utilizada para medir a profundidade do rio.
Novamente, o Amazonas continua sem prazo para a construção das novas pontes sobre os dois trechos da BR-319. Enquanto isso, cerca de 100 mil pessoas são afetadas nas regiões que dependem da conexão.
Em coletiva realizada na segunda-feira, o governador disse que há desabastecimento de alimento, remédio e combustíveis no estado. Também afirmou que há risco de as cidades ficarem sem energia elétrica.
O Governo do Amazonas decretou emergência em três cidades: Careiro da Várzea, Careiro – conhecido como Careiro Castanho – e Manaquiri.
Desabamentos
As duas pontes desabaram em uma intervalo de menos de duas semanas. A ponte sobre o Rio Curuçá desabou no dia 28 de setembro, levando carros e pessoas para dentro do rio. O acidente deixou quatro mortos, 14 feridos e, pelo menos, um desaparecido.
Nos depois que sucederam a tragédia, o Corpo de Bombeiros retirou dez veículos de dentro do rio, incluindo um rolo compressor e uma carreta.
No no sábado (28), dez dias depois do primeiro acidente, a Ponte Autaz Mirim ruiu e também desabou. As duas pontes ficam a dois quilômetros de distância uma da outra. As estrutura caiu no início da noite, horas após ter sido interditada. Segundo o Governo do Amazonas, o acidente não deixou feridos.
Histórico de problemas
Criada durante a Ditadura Militar, a BR-319 surgiu com a proposta de integrar o Amazonas ao resto do país, mas sofre há décadas com falta de estrutura para tráfego. Durante a campanha eleitoral de 2018, o presidente Jair Bolsonaro (PL) prometeu asfaltá-la.
Passado mais de três anos e meio desde que o presidente assumiu o cargo, a promessa de asfaltamento da BR-319 ainda não saiu do papel.
Grande parte da rodovia segue imprópria para o trânsito de veículos em meio a impasses ambientais e burocráticos. São cerca de 900 quilômetros que separam Manaus de Porto Velho (RO), uma distância que poderia ser percorrida em 12 horas de carro. A recuperação da área está estimada em R$ 1,4 bilhão.
A rodovia possui diversos trechos danificados e não tem pavimentação em quase toda a sua extensão, o que provoca atoleiros no período chuvoso. Já no período de estiagem, os motoristas reclamam de outros problemas: buracos e poeira.
Durante a crise de oxigênio, por exemplo, quando os hospitais de Manaus ficaram sem oxigênio por conta de um novo surto de Covid-19, um comboio que levava oxigênio para a capital do Amazonas pela BR-319 enfrentou dificuldades no trajeto. Os veículos, que deveriam cruzar 800 km em 36 horas, levaram mais de cinco dias na estrada e chegaram a Manaus com atraso, por conta de atoleiros.
FONTE: Por G1 AM