O coordenador médico da central de regulação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), Jimmy Herrera, foi exonerado do cargo na quinta-feira (31). Dias antes, ele admitiu ter conhecimento das irregularidades no cumprimento de escalas de trabalho que envolvem servidores e médicos.
“Ontem à noite eu fui comunicado. Me destituíram do cargo. Eles querem que eu volte a ser médico regulador. É uma punição. Se te colocam num cargo abaixo, é porque tá sendo punido”, diz o profissional.
À reportagem do g1, Jimmy disse que na manhã desta sexta-feira (1º) enviou uma solicitação de férias para o departamento de Recursos Humanos. Ele relata que vai usar o período para avaliar a permanência na Secretaria Estadual da Saúde.
“Dependendo de como vai ficar, eu vou ter que sair”, reflete.
Herrera revelou que uma das táticas usadas por uma das médicas envolvidas na fraude consistia em deixar uma garrafa d’água sobre o teclado quando se ausentava do trabalho para manter as teclas pressionadas. Com isso, o computador não desligava e nada era registrado no sistema.
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O então coordenador da central de regulação também disse que um médico chegou a apresentar 12 atestados falsos para cumprir horário menor do que o contratado. Segundo Herrera, a direção não tomou providências.
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Na quarta-feira (30), um áudio enviado pelo então diretor do Departamento de Regulação, Eduardo Elsade, a Jimmy determinava que uma médica que se ausentou do trabalho não seja punida. Na gravação, obtida com exclusividade pela RBS TV, Elsade estabelece que não seja aberta investigação contra ela, nem seja aplicada advertência.
Laura Sarti de Oliveira, então diretora-adjunta do departamento, assumiu o lugar de Eduardo Elsade. Ele foi afastado após a divulgação do áudio.
Gabinete do vice-governador foi alertado
Na quarta-feira (30), o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB) fez o primeiro pronunciamento sobre as denúncias de fraude no Samu. Segundo Leite, o autor das denúncias, o enfermeiro Cleiton Félix “optou por primeiro apresentar os fatos à imprensa”, sem noticiar o caso ao governo. O então servidor, no entanto, afirma que o gabinete do vice-governador, Gabriel Souza (MDB), foi alertado em abril sobre o descumprimento de escala dos médicos do Samu.
“Através de um amigo, eu consegui uma marcação com o gabinete do vice-governador Gabriel. E nesse dia fui recebido por servidores, por um assessor e, por duas horas, eu relatei tudo o que tava acontecendo lá dentro”, afirma Cleiton.
A assessoria do gabinete do vice-governador confirma que recebeu o então servidor do Samu. Ele teria sido orientado a formalizar denúncia, fato que não teria ocorrido. Segundo a pasta, “eventuais denúncias devem ser encaminhadas pelos canais oficiais para que o estado tenha conhecimento e possa apurar”.
Sindicância e sistemas de câmeras
Na segunda-feira (28), a Secretaria Estadual de Saúde (SES) anunciou a abertura de sindicância, auditoria e implantação de novos mecanismos de controle na central de regulação, como câmeras.
A secretária estadual da Saúde, Arita Bergmann, gravou um pedido de desculpas e prometeu providências. A sindicância aberta pela pasta para apurar o caso tem prazo de 30 dias para ser concluída. Um sistema de câmeras e catracas para controlar entradas e saídas no local também deve ser instalado.
FONTE: Por CNN