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Bacia da Foz do Amazonas: conheça área no centro da discussão sobre a exploração de petróleo no Amapá

Área de interesse para exploração está a cerca de 175 quilômetros da costa do Amapá. Região possui manguezais, recifes e terras indígenas.

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Estação Ecológica de Maracá-Jipioca, uma das reservas na costa do Amapá — Foto: Instituto Onça-Pintada/Divulgação

A exploração de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas, no Amapá, ganhou a defesa do presidente Lula e da presidente da Petrobras, Magda Chambriard, nos últimos dias. A região possui uma vasta biodiversidade que poderia ser afetada em caso de um possível derramamento de óleo, o que preocupa ambientalistas.

Na costa do estado foram identificados recifes de corais ainda pouco estudados. Além disso, a região litorânea amapaense conta com o maior cinturão de manguezais do mundo – que se estende pela costa da Amazônia e representa 80% da cobertura do país.

A Petrobras solicitou ao Ibama a autorização para pesquisar se há petróleo na Bacia da Foz do Amazonas e se é viável do ponto de vista econômico a exploração comercial.

Infográfico mostra o local em que a Petrobras quer explorar petróleo na bacia da Foz do Amazonas — Foto: Editoria da Arte/g1
Infográfico mostra o local em que a Petrobras quer explorar petróleo na bacia da Foz do Amazonas — Foto: Editoria da Arte/g1

Toda essa biodiversidade está no centro das discussões sobre a exploração de petróleo em uma área a cerca de 175 quilômetros da costa do Amapá, na bacia da Foz do Amazonas, que por sua vez integra a Margem Equatorial.

g1 reuniu informações sobre a fauna, a flora e a presença de povos originários neste espaço que possui tesouros naturais ainda pouco estudados. Leia abaixo:

Recifes da Amazônia
Corais da Amazônia  — Foto: Greenpeace/Divulgação
Corais da Amazônia — Foto: Greenpeace/Divulgação

Em 2016, recifes de corais foram descobertos na costa do Amapá em meio ao anúncio de exploração de petróleo na região. Os “corais da Amazônia”, de acordo com a organização não-governamental (ONG) internacional Greenpeace, são formações únicas e seriam diretamente ameaçadas pela atividade petrolífera

Os corais foram citados pela primeira vez em maio de 2016 por um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que explorou a costa Leste do Amapá, na fronteira com a Guiana Francesa.

De acordo com a pesquisa, os recifes são formados por corais, esponjas e rodolitos (algas calcárias). Diante do estudo, os pesquisadores fizeram em janeiro de 2017 a primeira expedição que, ao longo de 16 dias, mapeou e identificou as novas descobertas.

Imagens capturadas revelaram um ecossistema rico em texturas, cores e formatos, que sobrevive em águas profundas e com pouca luminosidade.

O ecossistema ainda pouco conhecido fica a 100 quilômetros do litoral, próximo ao encontro das águas do Rio Amazonas e do Oceano Atlântico. Ele desperta grande curiosidade sobre como acontece a adaptação da vida marítima na mistura de água doce e salgada.

Inicialmente, foi estimado que os recifes teriam pelo menos 9.500 quilômetros quadrados, mas após a expedição, os cientistas estimam que eles podem ter até 56 mil quilômetros quadrados, em uma área que vai da Guiana Francesa, passa pelo Amapá e Pará e chega ao Maranhão.

Imagem submersa dos Corais da Amazônia  — Foto: Greenpeace/Divulgação
Imagem submersa dos Corais da Amazônia — Foto: Greenpeace/Divulgação

Também em 2018, um projeto de lei para tornar os corais da Amazônia uma área de preservação permanente começou a tramitar na Câmara dos Deputados, mas a proposta foi rejeitada em dezembro de 2021 pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara.

Em meio à discussão sobre a possível liberação da exploração de petróleo na área próximas aos corais, ONGs, universidades e moradores da região temem as consequências de impactos ambientais ao ecossistema.

Manguezais da Amazônia
Área de mangue no Cabo Orange, no Amapá  — Foto: ICMBio/Divulgação
Área de mangue no Cabo Orange, no Amapá — Foto: ICMBio/Divulgação

Distribuídos pelos estados do Amapá, Pará e Maranhão, os manguezais da Amazônia correspondem a mais de 80% dos manguezais do Brasil e possui o maior cinturão ininterrupto do mundo.

De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Amapá é o terceiro maior estado do Brasil com uma área de 226 mil hectares de mangues, atrás do Pará (aproximadamente 390 mil hectares) e do Maranhão (505 mil hectares). O dado, segundo o instituto, consolida a importância da costa norte para a conservação da vegetação.

O mangue é um ambiente de transição entre o mar e o continente, entre a água salgada e a doce, entre os biomas terrestre e marinho, nas regiões tropicais e subtropicais.

Parque Nacional do Cabo Orange (PNCO), no Amapá — Foto: Marcus Cunha/ICMBio
Parque Nacional do Cabo Orange (PNCO), no Amapá — Foto: Marcus Cunha/ICMBio

Na Amazônia, o ecossistema gera verdadeiras florestas com árvores de grande porte. O solo se forma a partir de uma grande quantidade de matéria orgânica em decomposição que serve de alimento e habitat para diversas espécies de crustáceos e peixes.

No Amapá, ocorre entre o Oceano Atlântico e o Rio Amazonas, onde existem as áreas de várzea, protegidas pelos manguezais.

“Ele surge com o objetivo de proteger o próprio continente de impactos possíveis, como de um tsunami, por exemplo, ou de grandes ondas. Ele também é um berçário de espécies aquáticas, onde peixes, crustáceos e camarões usam para reprodução. O mesmo peixe que a gente consome no mercado, é o mesmo peixe que um dia viveu no mangue”, destacou Paulo Silvestro, analista ambiental do ICMBio.

A maior parte dos mangues amapaenses está localizada no Parque Nacional do Cabo Orange.

Parque Nacional do Cabo Orange
Ponta do Mosquito no Cabo Orange, no Amapá — Foto: Divulgação/ICMBIo
Ponta do Mosquito no Cabo Orange, no Amapá — Foto: Divulgação/ICMBIo

Com uma área de aproximadamente 657.318 mil hectares, o Parque Nacional do Cabo Orange está localizado nos municípios de Calçoene e Oiapoque, no Norte do Amapá, região também conhecida como Litoral Equatorial Amazônico.

As espécies florestais mais comuns na região são as árvores mangue-branco, mangue-vermelho e o negro.

O local abriga vários animais que estão ameaçados de extinção, entre eles gato-do-mato, cuxiú-preto, tartaruga-verde, tamanduá-bandeira, onça-pintada, peixe-boi marinho e peixe-boi-da-Amazônia.

Segundo o ICMBio, uma das visões que mais impressiona os visitantes é a grande concentração de aves, que utilizam a área para construção de ninhos nos mangues.

Aves migratórias no Cabo Orange — Foto: ICMBio/Divulgação
Aves migratórias no Cabo Orange — Foto: ICMBio/Divulgação

De acordo com o biólogo analista do ICMBio, o Amapá recebe anualmente algumas espécies de aves que fogem do inverno de países como o Canadá e os Estados Unidos e que passam o verão nesse ponto específico no Norte do Brasil.

“Tem animais que viajam milhares de quilômetros do Canadá e do Alasca (EUA) e vêm pra cá. O maçarico-rasteirinho, maçarico-de-perna-amarela. Do grande e do pequeno, vêm ficar aqui durante o inverno de lá, que tem muita neve e não tem comida”, comentou Silvestro.

 Caranguejos-uçá  — Foto: ICMBio/Divulgação
Caranguejos-uçá — Foto: ICMBio/Divulgação

Outros protagonistas dessa área são os caranguejos-uça, crustáceos predominantes na região. A espécie se alimenta de folhas em decomposição, sementes e frutos de mangue.

A carne do caranguejo-uça é bastante apreciada na culinária, por isso é definido anualmente o período de defeso durante a época reprodutiva da espécie.

Conhecida como “andada”, essa fase acontece no início do ano, quando os caranguejos saem das tocas e andam aos montes pelos manguezais, em busca de acasalamento e para a liberação de ovos.

Esta área que compõe o Parque Nacional do Cabo Orange é apenas um recorte da rica biodiversidade existente na costa do Amapá.

Outras duas unidades de conservação litorâneas também guardam as riquezas do extremo norte do Brasil: a Reserva Biológica do Lago Piratuba e a Estação Ecológica Maracá-Jipioca, que abriga a “Ilha das Onças-Pintadas”, uma das regiões mais remotas do estado com acesso pelo município de Amapá.

Terras indígenas
Crianças e adultos participam da soltura de tracajás nas terras indígenas de Oiapoque — Foto: Marcelo Domingues/Instituto Iepé
Crianças e adultos participam da soltura de tracajás nas terras indígenas de Oiapoque — Foto: Marcelo Domingues/Instituto Iepé

Povos Indígenas temem a exploração de petróleo na costa do Amapá por acreditarem que a atividade deve provocar impactos ambientais em pelo menos quatro etnias que ficam ao norte do estado.

Renata Lod, vice coordenadora do Conselho de Caciques dos Povos Indígenas do Oiapoque (CCPIO), detalhou que os povos KaripunaGalibi Marworno, Galibi Kali’ na e Palikur-Arukwayene vivem em 3 Terras Indígenas demarcadas e homologadas (TI Uaçá, TI Jumina e TI Galibi).

Comunidade indígena Açaizal — Foto: CCPIO/Divulgação
Comunidade indígena Açaizal — Foto: CCPIO/Divulgação

Ao todo, são cerca de 13 mil indígenas vivendo em 56 comunidades dentro de uma área contínua de 518.454 hectares, organizada em 5 regiões: BR-156, Rio Oiapoque, Rio Uaçá, Rio Urukawá e Rio Curipi.

A vice coordenadora disse que as comunidades receberam com satisfação o resultado do parecer do Ibama.

“Ele apenas afirma aquilo que a gente vem tentando dialogar com a Petrobras todo esse tempo porque nós estamos tentando um diálogo para que o nosso protocolo de consulta seja respeitado, mas também para que a gente mostre os danos que isso pode trazer. Nós estamos vivendo as questões das mudanças climáticas e nós povos indígenas estamos vivendo na pele toda essa situação”, disse.

Terras indígenas podem ser afetadas por exploração na costa do Amapá — Foto:  Maksuel Martins/Secom
Terras indígenas podem ser afetadas por exploração na costa do Amapá — Foto: Maksuel Martins/Seco

Outra preocupação é a movimentação de aeronaves na região. Segundo Lod, o barulho pode causar transtornos nas aldeias, que não estão acostumadas com sobrevoos.

“A questão das aeronaves que passavam quase que diariamente em cima das nossas aldeias trazendo consequências tanto para as nossas crianças que se assustavam, quanto para a caça. Isso assustava as caças, tanto pássaros, quanto animais terrestres […] os nossos territórios vai sendo impactados com isso”, completou.

FONTE: Por G1

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