
Entre 2020 e 2021, os anos mais críticos da pandemia de Covid-19, pelo menos 5.220 jovens no Amazonas ficaram órfãos de pai, mãe ou ambos. O dado faz parte de um estudo internacional que contou com pesquisadores brasileiros, americanos e britânicos, que analisou o impacto da pandemia na infância e as desigualdades entre os estados brasileiros.
➡️A pandemia da Covid-19 foi uma crise sanitária global causada pelo coronavírus SARS-CoV-2, que se espalhou rapidamente a partir de dezembro de 2019. No Brasil, os primeiros casos foram registrados em fevereiro de 2020, e o país enfrentou sucessivas ondas de contaminação, com impactos profundos na saúde pública, economia e vida social.
Além da perda dos pais, outras 8.620 crianças e adolescentes perderam avós ou parentes mais velhos que viviam com elas e exerciam papel de cuidador. Somando os dois grupos, a Covid-19 deixou 13,8 mil órfãos no estado.
No Brasil, a pandemia deixou 284 mil órfãos. Desses, 149 mil perderam pai, mãe ou ambos, e 135 mil perderam avós ou outros cuidadores. No Amazonas, foram 20 mil crianças sem pai e 24,5 mil sem avós ou parentes mais velhos.
🔍A taxa de orfandade associada à pandemia foi de 9,6 por mil crianças , sendo 3,6 por mil por perda dos pais e 6 por mil por perda de cuidadores mais velhos.
Uma das autoras do estudo, a professora do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo Lorena Barberia, destaca que os impactos de uma emergência sanitária são identificados primeiro entre as vítimas diretas, mas há também aqueles que são afetados por essas mortes.
“Nós quisemos olhar a vulnerabilidade das pessoas que dependem de quem faleceu. Achamos super importante lembrar que as pessoas acima de 60 anos não só tinham mais chance de morrer, mas, muitas vezes, tinham um papel na estrutura familiar muito decisivo. Muitas crianças e adolescentes dependiam dessas pessoas”, explicou.
A professora Grace Sá, de 39 anos, não é adolescente, mas acabou ficando órfã na época da pandemia. Ela destacou que com a perda da mãe para a doença, teve que lidar com toda a responsabilidade deixada e ao mesmo tempo assimilar o choque causado pela morte.
“Perder minha mãe para a Covid-19 me deu um sentimento de impotência e revolta. Se um mês antes a vacina tivesse sido disponibilizada talvez ela ainda estivesse aqui. Essa revolta me acompanha até hoje, pois ela tinha uma chance que foi lhe tirada pela ganância. A Covid levou minha mãe e me deixou traumas na alma. Vi gente morrendo no hospital”, contou a professora.
Para a psicóloga Cristina Borsari, a privação de amor e cuidado também pode trazer problemas em diferentes tipos de convivência durante a vida adulta.
“Quando a criança perde esse vínculo de proteção, ela desenvolve algo que a gente chama de desamparo afetivo. Esse desamparo afetivo vai trazer consequências como pessoas mais inseguras, mais agressivas; com dificuldades em lidar com frustração, situações conflitantes e formar vínculos afetivos”, destaca a psicóloga.
FONTE: Por G1 AM




































