A Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) cumpriu um mandado de busca e apreensão, nesta quinta-feira (18), na casa da médica Juliana Brasil Santos, investigada pela morte de Benício Xavier, de 6 anos, em Manaus. Na ação, foram apreendidos o celular da profissional, documentos e um carimbo que indicava especialidade em pediatria, apesar de ela não possuir o título oficialmente reconhecido.
De acordo com a polícia, a médica é investigada por prescrever uma dose incorreta de adrenalina. Além dela, a técnica de enfermagem Raiza Bentes também é investigada por ter aplicado o medicamento diretamente na veia da criança. Não houve cumprimento de mandados contra a técnica nesta quarta-feira.
Ainda segundo as investigações, Juliana Brasil admitiu o erro em um documento encaminhado à polícia e em mensagens trocadas com o médico Enryko Queiroz. A defesa, no entanto, afirma que a confissão ocorreu no “calor do momento”.
Juliana Brasil e Raiza Bentes respondem ao inquérito em liberdade após a Justiça negar o pedido de prisão preventiva. A decisão seguiu o parecer do Ministério Público do Amazonas (MP-AM), que também se manifestou contra a prisão das profissionais, e determinou a suspensão do exercício profissional de ambas por 12 meses.
Apesar disso, a Justiça determinou a suspensão cautelar do exercício profissional da médica e da técnica em enfermagem. Na decisão, o juiz Fábio Olintho de Souza afirmou que manter Juliana atendendo pacientes, especialmente crianças, representaria risco à saúde pública.
Por isso, o magistrado determinou que o Conselho Regional de Medicina do Amazonas (CRM-AM), o Conselho Regional de Enfermagem do Amazonas (Coren-AM) e as secretarias estadual e municipal de Saúde fossem comunicados para garantir o cumprimento da medida.
A técnica de enfermagem Raiza Bentes teve o exercício profissional suspenso de forma cautelar no dia 1º de dezembro.
Médica usava carimbo de pediatria
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A médica Juliana Brasil também pode responder pelos crimes de falsidade ideológica e uso de documento falso, além de homicídio doloso por dolo eventual. A informação foi confirmada pelo delegado Marcelo Martins.
Segundo o delegado, a Polícia Civil realizou uma análise sobre a forma como a médica se identificava profissionalmente. De acordo com a apuração, Juliana Brasil utilizava carimbo e assinaturas com referência à especialidade de pediatria, mesmo sem possuir o título oficialmente reconhecido.
“Nós realizamos um estudo a respeito da questão dela ter assinado a especialização pediatria no carimbo e ter assinado o nome dela com a expressão pediatria. Todas as regulamentações do Conselho Federal de Medicina indicam que o médico que não possui uma especialização não pode se identificar de nenhuma forma, com nenhuma referência a uma especialidade que ele não possui, e ela fez isso”, afirmou o delegado Marcelo Martins.
Ainda conforme o delegado, a conduta pode configurar dois crimes distintos.
“Então, isso configura o crime de falsidade ideológica e o uso de documento falso. A investigação prossegue agora também com relação a esses dois crimes, além do homicídio doloso por dolo eventual”, disse.
A Polícia Civil segue colhendo depoimentos e analisando documentos para esclarecer as circunstâncias do atendimento e eventuais responsabilidades criminais.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) permite que médicos obtenham o Título de Especialista em Pediatria (TEP) sem residência, por meio da aprovação na Prova de Título (TEP).
A defesa da médica afirmou à Rede Amazônica que, embora Juliana Brasil não tenha o título de especialista em pediatria, ela é formada desde 2019 e atuava legalmente na área, acumulando experiência prática. Os advogados acrescentaram que ela pretendia realizar a Prova de Título neste mês de dezembro.
O caso
Segundo o pai, Bruno Freitas, o menino foi levado ao hospital com tosse seca e suspeita de laringite. Ele contou que a médica prescreveu lavagem nasal, soro, xarope e três doses de adrenalina intravenosa, 3 ml a cada 30 minutos.
A família disse ao g1 que chegou a questionar a técnica de enfermagem ao ver a prescrição. De acordo com Bruno, logo após a primeira aplicação, Benício apresentou piora súbita.
“Meu filho nunca tinha tomado adrenalina pela veia, só por nebulização. Nós perguntamos, e a técnica disse que também nunca tinha aplicado por via intravenosa. Falou que estava na prescrição e que ela ia fazer”, relatou o pai.
Após a reação, a equipe levou a criança para a sala vermelha, onde o quadro se agravou. A oxigenação caiu para cerca de 75%, e uma segunda médica foi acionada para iniciar o monitoramento cardíaco. Pouco depois, foi solicitado um leito de UTI, e Benício foi transferido no início da noite de sábado.
Na UTI, segundo o pai, o quadro piorou. A equipe informou que seria necessária a intubação, realizada por volta das 23h. Durante o procedimento, o menino sofreu as primeiras paradas cardíacas.
O pai relatou que o sangramento ocorreu porque a criança vomitou durante a intubação. Após as primeiras paradas, o estado de Benício continuou instável, com oscilações rápidas na oxigenação. Minutos depois, Benício apresentou nova piora e não respondeu às manobras de reanimação. Ele morreu às 2h55 do domingo.
“Queremos justiça pelo Benício e que nenhuma outra família passe pelo que estamos vivendo. O que a gente quer é que isso nunca mais aconteça. Não desejamos essa dor para ninguém”, disse o pai.
Em nota, o Hospital Santa Júlia informou que uma médica e uma técnica de enfermagem foram afastadas de suas funções e realizou uma investigação interna pela Comissão de Óbito e Segurança do Paciente.
FONTE: Por G1 AM





































