Um shopping na Zona Norte do Rio está acolhendo pessoas em situação de rua durante o inverno. Além de receber abrigo e comida, quem busca por ajuda pode conseguir até um emprego.
O espaço de acolhimento fica no setor administrativo do Norte Shopping e conta com a parceria da Secretaria Municipal de Assistência Social, da ONG Casa de Cáritas e de lojistas. O local oferece banho, jantar, café da manhã, área de lazer e dormitório para pessoas que não têm onde morar.
O cozinheiro João Oliveira, que veio do Ceará para o Rio em 2021 e passou a dormir nas ruas há pouco mais de um ano, conta que ficou surpreso quando soube da iniciativa. Agora, graças ao projeto, ele vai poder voltar para casa.
“Você acha que um shopping vai abrir as portas para receber moradores de rua? Quando me falaram, eu achei que era brincadeira. Mas, quando você chega aqui e se depara com essa situação… Tenho muito a agradecer ao serviço social que se empenhou muito e conseguiu a passagem para eu voltar para casa.”
Um cuidado simples, mas que faz diferença para quem está em situação de vulnerabilidade.
“Poder fazer sua higiene pessoal de manhãzinha é um momento muito íntimo para todo mundo. Para quem acorda na rua não é diferente, a gente tem que ter a nossa intimidade e não temos nenhuma”, diz o cozinheiro.
“Foi deixando o shopping com uma tempertaura bem baixa no Rio de Janeiro que eu me perguntei como a estrutura do Norte Shopping poderia fazer para receber pessoas em situações de rua. Então me veio a resposta. Em contato com a amiga da secretaria, a Márcia, a gente pôde criar essa ideia que se tornou um projeto incrível”, diz o coordenador.
Equipes da Secretaria Municipal de Assistência Social selecionam as pessoas que vão ser acolhidas. Elas então são levadas para o shopping, no horário combinado. O espaço tem capacidade para receber até 35 pessoas.
Para ser selecionado, o beneficiário precisa atender a um critério principal, que é ter vontade de sair das ruas, já que o projeto não oferece só um lugar temporário para passar a noite, mas também a oportunidade de mudar de vida.
Em três anos, 39 pessoas que foram acolhidas na iniciativa conseguiram voltar para as famílias ou uma oportunidade de emprego.
Antônio Sales da Silva teve a vida transformada pela iniciativa. Depois de uma dificuldade financeira grave, ele foi para em um abrigo da Prefeitura do Rio. Foi no shopping que ele conseguiu um emprego como controlador de acesso.
“Hoje eu tenho uma vida bem estruturada. Tenho minha casa, meus móveis, minhas coisas e moro bem próximo ao trabalho, então é bem sossegado”, conta Antônio.
Já Thiago dos Santos Carvalho passou 13 anos na rua. Antes de receber apoio, sofreu com o vício nas drogas. Ao ser acolhido no projeto, decidiu se reabilitar e conseguiu um emprego.
“Minha família já estava descrente de mim e hoje eu estou aqui provando que, realmente, eu tenho jeito, sim. Não só eu, como outras pessoas que estejam nessa situação. Se elas olharem para si próprias e conseguirem acessar o potencial que elas têm dentro de si, conseguem tudo na vida, como eu consegui.”
A assistente social Márcia Accioly explica qual é o objetivo do projeto. “É fazer o nosso papel, em parceria com as instituições privadas e a sociedade civil. Promover esse resgate da cidadania, reinserção social, essa dignidade que todos merecem e é previsto.”
O conferente Jeanderson de Lima veio da Bahia com a promessa de um emprego. Mas, no meio do caminho, ele ficou sabendo que a vaga não existia mais. Teve que dormir duas noites na rua. “
Foi meio assustador porque você está em um outro território e nunca ia imaginar na vida que ia passar por isso. Ainda bem que é só passar, e está passando.”
Na quarta-feira (9), Jeanderson estava se preparando para uma entrevista de emprego e deixou uma mensagem de esperança.
“Quero provar para muitos que eu vim de tão longe e consegui. Para quem está perto, fica mais fácil. Se hoje não conseguiu, amanhã levanta mais certo que vai dar certo.”
Jeanderson passou por uma entrevista de emprego e conseguiu a vaga. Ele vai começar a trabalhar como operador de tráfego do shopping.
FONTE: Por G1