Aliados nas eleições de 2014 e 2018, o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto (PSDB) e o senador Omar Aziz (PSD) estão em confronto. Na semana passada, Arthur chamou o senador de “sem escrúpulo” e passou a relembrar o fracassado projeto da Cidade Universitária, idealizado por Omar. Aziz afirma que o ex-prefeito quer uma “carta de seguro”, em razão de denúncias de corrupção na prefeitura, e está “a serviço do Bolsonaro”.
O confronto ocorre no momento em que Omar coordena os trabalhos da CPI da Covid no Senado, cujas investigações sobre ações e omissões do Poder Executivo no enfrentamento da pandemia de Covid-19 alcançam, além do governo federal, os governos estaduais e prefeituras. Isso significa que Arthur pode ser alvo de investigação da comissão sobre fatos ocorridos em 2020, quando ele exerceu o último ano de mandato de prefeito.
Na última quarta-feira (21), em resposta a uma ação movida pelo MP-AM (Ministério Público do Amazonas) pela concessão de gratificação de até 500% a servidores da Casa Civil da Prefeitura de Manaus entre 2013 e 2019, Arthur alegou que era alvo de perseguição política comandada pelo “governador e seus patrões” e por um “senador” cuja vida pública ele salvou “a duras penas” sem saber que o mesmo seria alvo da “Maus Caminhos”.
No sábado (24), em rede social, o ex-prefeito voltou a investir contra Omar relembrando o projeto da Cidade Universitária, no município de Iranduba (a 25 quilômetros de Manaus), cujos investimentos alcançaram R$ 92,1 milhões, mas a obra nunca foi concluída. Em 2014, quando Aziz anunciou a construção da primeira etapa do projeto, Arthur exercia o segundo ano do primeiro mandato de prefeito da capital amazonense.
O ex-prefeito chamou seu ex-aliado de “homem sem nenhum escrúpulo”. “Esse projeto foi uma traição enorme aos jovens do nosso Estado que sonhavam com mais oportunidades e revela o caráter de um homem sem nenhum escrúpulo, que lida com o fato de sua quadrilha, da ‘Operação Maus Caminhos’, ter desviado R$ 260 milhões da saúde pública e, simplesmente, traça planos para se manter no poder e ficar imune”, disse Arthur.
Neste domingo (25), em entrevista ao ATUAL, Aziz afirmou que Arthur não tinha esse pensamento a respeito dele quando o apoiou para o atual cargo de senador em 2014 e para governador do Amazonas em 2018. Neste último, a chapa encabeçada por Aziz tinha como candidato a vice-governador o ex-deputado federal Arthur Bisneto (PSDB), filho de Arthur Neto, mas foi derrotada no primeiro turno.
O presidente da CPI da Covid afirmou que Arthur tenta obter uma “carta de seguro” com os ataques. “Mas qual perseguição política está tendo? É carta de seguro que ele quer tirar? Se o prefeito está querendo tirar carta de seguro em cima de mim, ele tem que atirar noutro. Até porque em 2014, quando ele me apoiou para o senado, e em 2018, quando me apoiou para o governo, ele não pensava isso de mim”, disse Aziz.
Omar lembrou que Arthur foi alvo de denúncias graves feitas pelos diretores do grupo Samel, que formou parceria com a Prefeitura de Manaus em 2020 para construção de um hospital de campanha. Após o rompimento da parceria e o resultado nas urnas, o deputado Ricardo Nicolau (PSD), que é o mesmo partido de Aziz, passou a apontar irregularidades em relação a participação da prefeitura na gestão do hospital de campanha.
Ao apontar o silêncio de Arthur sobre as denúncias, o presidente da CPI da Covid citou a expressão “comer abil”. “É estranho ter comido abil. Os ataques que ele recebeu do deputado estadual Ricardo Nicolau e do empresário, dono da Samel, Beto Nicolau. Será que é isso que ele está preocupado e quer tirar carta de seguro e com mania de perseguição? Ele não tem mais idade para isso, para se sentir vítima de alguém”, disse Aziz.
O caso citado pelo senador trata-se da denúncia de Luís Alberto Nicolau de que Arthur superfaturou o preço dos serviços contratados pela prefeitura para o hospital. “Você não tinha intenção de ajudar, (Arthur). Você tinha a intenção de roubar. Eu lhe chamei de ladrão e reafirmo aqui. Você fala que vai me processar. Eu acho que você não vai ter coragem porque lá eu vou poder provar que você é um ladrão”, disse o presidente do Grupo Samel.
Omar também acusou Arthur de estar “a serviço” do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que trava confronto tenso com o senador desde o início dos trabalhos da CPI da Covid em razão de investigação contra membros do governo. “Não sei a serviço de quem ele (Arthur Neto) está. Será que ele está a serviço do Bolsonaro? Creio eu que ele está a serviço do presidente Bolsonaro”, afirmou o senador.
Omar Aziz
Nasceu em Garça (SP), foi vice-prefeito de Manaus entre 1997 e 2001. Formado em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Amazonas, também foi vice-governador do Amazonas entre 2003 e 2010, quando se tornou governador, e foi reeleito em 2010. No PSD, conquistou uma cadeira no Senado pelo Amazonas em 2014.
FONTE: Por Felipe Campinas, da Redação/AMAZONAS ATUAL