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Curupira e matins: comunidade ribeirinha transmite lendas folclóricas aos jovens para preservar cultura

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Curupira é um dos seres conhecidos pelos moradores do local. — Foto: Celso Costa/Rede Amazônica

Na Comunidade Nova Esperança, que fica localizada na Reserva Puranga Conquista, no Rio Negro, o assunto é sério. Vice-líder do local contou que ‘seres’ são presenças que vivem quase em que em constante contato com os membros do povoado.

Cobra grande, curupira, saci e matinta pereira, entre outras, são algumas das lendas folclóricas mais famosas na Região Amazônica. Para alguns, não passam de contos feitos para assustar crianças. Mas, para outros, elas fazem parte da cultura e da realidade, principalmente em comunidades indígenas e ribeirinhas da Amazônia. Na Comunidade Nova Esperança, que fica localizada na Reserva Puranga Conquista, no Rio Negro, o assunto é sério.

O vice-líder da comunidade – que é composta exclusivamente por índios da etnia Baré – Joarlisson Baré, contou ao G1 que ‘os seres’ são presenças que vivem quase em que em constante contato com os membros do povoado. E todos, desde muito cedo, aprendem que é preciso respeito até para entrar na mata. Um desses seres é o curupira, conhecido como o guardião da floresta.

Joarlisson é vice-líder da comunidade e professor na única escola do local.  — Foto: Matheus Castro/G1
Joarlisson é vice-líder da comunidade e professor na única escola do local. — Foto: Matheus Castro/G1

“Uma vez, entrei na mata para caçar. Conhecia muito bem aquele caminho, porque fazia sempre com meu pai. Naquele dia, fui sozinho. Mas comecei a ficar confuso, me perder. Percebi que estava andando em círculos. Só consegui voltar depois que lembrei de me orientar pelo sol e eu já estava muito longe da borda da floresta”.

O relato parece de alguém que apenas se perdeu na mata e depois de muito tentar, só conseguiu sair após se orientar pelo sol. Mas Joarlisson acredita que o curupira o confundiu. Segundo ele, esse ser é conhecido por cuidar da floresta.

“Ele é o guardião da floresta. Quando tem caçador mal-intencionado ele começa a perseguir. O som que você ouve parece de tapas nas árvores, parece que ele vem com tudo pela floresta e você sente aquela força, aquela energia vindo, chegando perto. Uma vez, um primo foi pescar perto da comunidade e ele ficou desesperado. Era noite e parecia que o curupira estava acompanhando ele com os olhos, na mata. O som era ensurdecedor e dava medo. Ele voltou apavorado e nós orientamos que ele nunca mais fosse de noite lá”, contou o líder, sob o olhar atencioso dos demais membros da comunidade.

Comunidade fica na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Puranga-Conquista, no Rio Negro. — Foto: Matheus Castro/G1
Comunidade fica na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Puranga-Conquista, no Rio Negro. — Foto: Matheus Castro/G1

Mas não é só do curupira que os índios tem medo. Existe também outro espírito que é conhecido pelos habitantes do povoado e que costuma assustar com o seu assobio: o matins.

“O matins é um espírito presente na cultura baré. Ele é reconhecido pelo assobio. Quando você ouve, sabe que ele está perto e ele fica brincando, te confundindo. Você ouve longe o som e logo depois está bem perto. Tem gente que fica maluco com o barulho, porque parece que ele está do seu lado”, explicou.

Vice-líder contou casos que aconteceram com moradores da comunidade.  — Foto: Matheus Castro/G1
Vice-líder contou casos que aconteceram com moradores da comunidade. — Foto: Matheus Castro/G1

Todos esses ensinamentos e as histórias de contato com os seres são repassados de geração a geração. A comunidade também costuma fazer a Semana Baré, que durante a programação separa uma ‘noite com os antigos’, para transmitir os contos e relatos aos jovens.

Alguns dos ensinamentos repassados pelos antigos ao líder foram de respeitar a floresta e os seres que nela habitam, principalmente evitando contato com elas nas horas de ‘passagem’. Além disso, Joarlisson aprendeu que quando a floresta silencia, há algo e errado.

Para moradores, assunto é sério e até discutido em semana de imersão dos jovens na cultura baré. — Foto: Matheus Castro/G1
Para moradores, assunto é sério e até discutido em semana de imersão dos jovens na cultura baré. — Foto: Matheus Castro/G1

São as horas em que os seres estão passando. Por isso é preciso pedir licença e esperar um tempo. Se estiver na mata ao meio dia, é preciso parar um tempinho. Basta você perceber que a floresta inteira silencia nesse horário, então, é preciso silenciar também. E 18h é uma outra hora em que é melhor estar em casa, seguro. Quando a floresta se cala, tem algo no ar. É melhor sair o mais rápido possível”.

FONTE: G1 AM

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