Visando as eleições de 2022, políticos do Amazonas começam a montar palanques para se apresentar ao eleitorado. Viagens ao interior do estado, entrega de obras custeadas com emendas parlamentares, programas de TV e rádio e ataques a adversários nas redes sociais são algumas das estratégias usadas pelos futuros candidatos na busca por holofotes.
O senador Omar Aziz (PSD) tem aproveitado a visibilidade nacional que está ganhando por ser presidente da CPI da Covid, no Senado, que investiga as ações e omissões do governo federal no combate à pandemia de Covid-19, para lançar sua pré-candidatura à reeleição em 2022. Vez ou outra, ele veste ‘capa de herói’ da população amazonense na comissão.
Aziz tem realizado viagens ao interior do estado acompanhado de aliados. Na quinta-feira (14), visitou o município de Parintins para inaugurar obras ao lado do deputado federal Marcelo Ramos (PL), da secretária estadual de Assistência Social, Alessandra Campêlo (MDB), e do prefeito do município, Bi Garcia (União Brasil).
Ao mesmo tempo em que busca divulgar seu trabalho, Aziz é alvo de duros ataques de possíveis adversários no pleito de 2022 nas redes sociais. O ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto (PSDB), que foi aliado de Aziz nas eleições de 2014 e 2018, trava confronto com o senador desde julho deste ano, quando o chamou de “sem escrúpulo”.
O ex-prefeito cumpre agenda nacional em campanha para as prévias partidárias que irão escolher o candidato do PSDB a presidente da República em 2022. Entretanto, usa as redes sociais para “marcar presença” na política local, enaltecendo projetos criados no governo dele e também atacando principalmente Aziz e o governador Wilson Lima.
Na sexta-feira, Arthur publicou no Twitter que foi processado por Omar por dizer “a verdade” contra o senador. Segundo o ex-prefeito, o parlamentar “nunca leu um livro”, é “perverso” e “arrogante” quando “se sente por cima”, e é “imoral” por usar advogados do Senado Federal para defender suas “mazelas”.
A publicação de Arthur gerou ataques contra ele mesmo por parte de outro político que investe contra Omar. O ex-vereador Chico Preto (DC) disse que o ex-prefeito faz uma “encenação patética” para voltar ao poder, pois precisa de foro privilegiado, e lembrou que o senador do PSD foi o candidato de Arthur para o cargo de governador em 2018.
Aziz também é alvo de ataques do ex-superintendente da Suframa Coronel Menezes (Patriota), que já expressou o desejo em disputar a única vaga para senador da República pelo Amazonas em 2022. Assim como Chico Preto, o patriota tem citado a Operação Maus Caminhos, que investigou esquema de fraudes na Saúde do Amazonas, para atacar Omar.
Fora das redes sociais, Menezes tem viajado ao interior do estado para reuniões com lideranças políticas. O ex-superintendente da Suframa disse que, na última semana, passou por Tapauá, Lábrea, Boca do Acre, Envira, Eirunepé, Carauari, Itamarati e Coari. Ele usa a imagem do presidente Jair Bolsonaro para tentar ganhar confiança de eleitores.
O governador Wilson Lima (PSC) tem viajado aos municípios amazonenses com intuito de promover seu governo com programas sociais. Na sexta-feira (15), ele esteve em Parintins, ao lado de Alessandra Campêlo e Bi Garcia, em evento que marcou a doação de 2 mil cestas básicas e 1,3 mil kits de higiene à população parintinense.
Lima já chegou a usar as redes sociais para rebater seu principal adversário, o senador Eduardo Braga (MDB). Em setembro, após Braga divulgar informação de que Lima havia autorizado o aumento de ICMS sobre o diesel, o governador foi às redes sociais para dizer que o senador usa “métodos truculentos” para tentar “enganar as pessoas”.
Braga, por sua vez, tem aproveitado a vitrine da CPI da Covid, da qual é membro titular, para culpar o governo estadual pelo colapso no sistema de saúde em Manaus durante a pandemia. Mas ele também tem visitado municípios do interior, tem recebido prefeitos em seu gabinete em Brasília e tem usado as redes sociais para mostrar obras bancadas com emendas direcionadas por ele.
Até um programa de rádio apresentado por um humorista foi criado para exaltar o trabalho do senador do MDB. O programa “Fala Dudu” é veiculado nas redes sociais dele e em rádios do interior do estado. Na edição que foi ao ar neste sábado (16), Braga disse que a proposta do programa é falar sobre “soluções, desafios e alegria”.
O ex-governador Amazonino Mendes (União Brasil), que estava em São Paulo, voltou a Manaus na quarta-feira (13) para se dedicar a sua pré-campanha. Desde que chegou na capital amazonense, tem divulgado vídeos com teor humorístico, relembrado ações sociais feitas em seus governos e exaltando profissionais, como os professores.
Amazonino voltou a usar a abelhinha, que foi usada como mascote de campanha eleitoral na década de 1990, quando ele foi governador pela segunda e terceira vez. Além disso, assim como fez na última eleição, o ex-governador tem tentado se apresentar como um político que conversa com o eleitorado jovem e está “ligado” nas redes sociais – até criou uma conta no TikTok.
Na sexta-feira (15), Amazonino participou de um evento do TCE-AM (Tribunal de Contas do Amazonas) no qual recebeu o Colar do Mérito de Contas. De acordo com a instituição, a honraria foi dada a 23 pessoas que ganharam notoriedade no serviço à sociedade amazonense, mas o ex-governador representou os agraciados.
Pré-candidatura
As regras eleitorais brasileiras estabelecem que aqueles que almejam cargos públicos no próximo pleito ainda não podem se apresentar como candidatos, mas podem expressar posições pessoais sobre questões políticas e ter suas qualidades pessoais exaltadas nas redes sociais ou eventos com cobertura da imprensa.
De acordo com a advogada Maria Benigno, nas eleições anteriores, os pretensos candidatos deixavam para a se apresentar ao eleitorado em momento mais próximo das eleições, mas agora eles se antecipam. Segundo ela, isso não é proibido, desde que não haja pedido explícito de voto e despesas exorbitantes.
O cientista político Helso Ribeiro afirma que, neste momento, os possíveis candidatos começam a “tentar mostrar que jogaram a melhor bola possível”. “[Eles vão] tentar enaltecer feitos deles que, como administradores, são normais, ou seja, tinham que ocorrer. Também vão aproveitar para mostrar o pecado dos adversários”, afirmou.
Helso afirma que a classe política sempre cria novas estratégias para tentar ganhar a confiança do eleitorado, que fica “incrédulo” quando vê, por exemplo, que aqueles que criticam uns aos outros estavam de mãos dadas nas últimas eleições. Segundo ele, essa preocupação antecipada surge em razão do alto custo das eleições de 2022.
“Outro dia eu estava vendo um comentário do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, tem dois anos mais ou menos, que eu concordo. Ele dizia que povo está enojado da classe política, cada vez mais desprestigiada. É por isso que de vez em quando tentam algo novo, porque os tradicionais já mostraram um discurso roto e carcomido”, disse Ribeiro.
O cientista político opina que essas estratégias podem dar certo para parte do eleitorado por conta do “desgaste”. “No Brasil, o voto é obrigatório. Por isso, eles vão lá só cumprir um momento e acabam não se interessando pelo resto desse momento. Ai o poder econômico, impulsionando esse tipo de propaganda, acaba funcionando, ainda”, completou Ribeiro.
Helso alerta para o impacto dos investimentos elevados nas eleições. “A estratégia, qualquer uma, vem sempre acompanhada de muito dinheiro, ou seja, a nossa democracia está muito próxima de uma plutocracia, governa quem tem muito dinheiro para impulsionar notícias falsas e até verdadeiras, mas requentadas”, disse.
FONTE: Por AMAZONAS ATUAL