Em entrevista, vice-presidente da Câmara diz que ‘não tomará decisão precipitada’ sobre o tema, mas que ‘não dividirá palanque’ com o presidente
Em entrevista à CNN, o deputado federal Marcelo Ramos (PL-AM), vice-presidente da Câmara, se mostrou incomodado com a possibilidade de fazer parte da mesma legenda que o presidente Jair Bolsonaro – sem partido desde novembro de 2019, quando deixou o Partido Social Liberal (PSL).
“Não tenho como negar que é um profundo constrangimento para mim dividir o mesmo partido com presidente Bolsonaro”, disse, nesta terça-feira (9), Ramos – que faz parte do Partido Liberal (PL) desde 2019.
“Eu disse ontem que não tenho dúvida que um presidente da República é muito mais importante para um partido do que um deputado federal, mas também não tenho dúvida que o futuro de um país é muito mais importante do que o projeto eleitoral de um partido”, completou.
Bolsonaro afirmou à CNN na segunda-feira (8) que a sua filiação ao PL “está 99% fechada” e que a “chance de dar errado é quase zero”.
Horas depois, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, disse em áudio ao qual a CNN teve acesso que, confirmada a filiação do presidente, as siglas da base do governo “têm que se acertar” e “se entender”.
Sobre essa situação incômoda, Ramos disse que não tomará nenhuma decisão precipitada. “Vou esperar a oficialização disso para me manifestar sobre minha vida partidária. O que posso dizer é que é um profundo constrangimento para mim porque não considero que o presidente Bolsonaro seja bom para o futuro do país.”
Discussões dentro do partido
Questionado se foi consultado pelo presidente do PL ou por outras lideranças do partido sobre a filiação de Bolsonaro, Ramos afirmou que foi comunicado sobre essa possibilidade há algum tempo.
“Deixei claro que não existia nenhuma possibilidade de eu estar no palanque do presidente Bolsonaro. Não só eu, mas outros deputados do partido [também] não têm nenhuma condição política de estar no mesmo palanque”, explicou.
Sobre uma “debandada” de políticos do partido em razão da possível chegada do presidente, Ramos não negou nem confirmou essa possibilidade.
“A reação mais negativa a essa filiação certamente se dá nos estados do Norte, como Amazonas, Pará e Roraima, e em alguns estados do Nordeste”, disse.
“Eu tenho um problema adicional: a maioria dos deputados tem o comando do partido em seus estados. Eu não. O comando do partido no meu estado é do ex-senador Alfredo Nascimento e com a entrada dos bolsonaristas isso gera um problema adicional.”
Candidatura à reeleição em 2022
Sobre a provável candidatura de Bolsonaro à reeleição, em 2022, o deputado afirmou que Bolsonaro “não será mais um fenômeno, como na eleição passada”.
“Ele será um candidato competitivo, porque tem a máquina da presidência da República, mas o grande discurso que ele vai ter dificuldade de enfrentar não é o da sua filiação partidária, mas como explicar mais de 600 mil mortos por conta de irresponsabilidade no trato da pandemia, explicar 14, 15 milhões de desempregados, 20 milhões de brasileiros com fome, a inflação a 10,5% e os juros de longo prazo a 11%”, disse.
“Isso vai ser muito mais difícil para ele explicar do que a filiação partidária [ao PL].”
Emendas do relator
Por fim, Ramos falou também sobre as chamadas “emendas do relator” do orçamento, que tiveram sua execução orçamentária suspensas por decisão da ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), e que terão o futuro decidido em votação do plenário virtual da Corte.
“Apresentei ontem [segunda-feira, 8] projeto de resolução alterando o regimento interno do Congresso Nacional para incluir no regimento interno da Casa o que está contido na decisão da ministra Rosa Weber, já confirmada por alguns ministros”, disse Ramos.
Essa resolução determina que todas as emendas de relator (RP9) devem identificar o deputado que indicou, qual o objeto da emenda, e qual o ente federativo beneficiado pela emenda.
“Isso me parece algo absolutamente óbvio diante do principal constitucional da publicidade e da responsabilidade que os homens públicos devem ter com a transparência de todos seus atos e gastos.”
Ramos também afirmou que um eventual fim da RP9 não diminuirá a capacidade de pressão do presidente da República sobre o Congresso.
“O fim da RP9 só significa a transferência desses recursos para a RP2, portanto, a transferência da decisão sobre a destinação dessas emendas da Câmara – do presidente da Câmara e do relator do orçamento – para o presidente da República”, explicou
“É um equívoco. Isso vai fortalecer a capacidade do presidente. Acho absolutamente correta a total e absoluta transparência desses atos, mas não acho que seja equivocado pegar parcela da capacidade de investimento do estado e, ao invés de manter sob liderança de uma só pessoa, dividir entre 513 deputados e 81 senadores.”
FONTE: Por CNN