A CNN assistiu ao filme, que estreia nesta quinta-feira (16), e traz uma crítica sem spoilers
Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa nem precisaria ser bom para fazer história. Felizmente ele é ótimo – talvez o melhor da trilogia no universo cinemático da Marvel (MCU).
O longa será mais lembrado por tudo o que veio antes do lançamento, com direito a centenas de teorias e debates acalorados na internet, reações incendiárias aos trailers e recorde de vendas para a pré-estreia.
Afinal, se os vilões (e seus respectivos atores) estariam de volta, isso significa que os fãs poderiam matar as saudades das versões do Teioso interpretadas por Tobey Maguire e Andrew Garfield?
A expectativa pelo “será que…” é magistralmente utilizada pelo diretor Jon Watts para conduzir um primeiro ato frenético, com a premissa que já havia sido apresentada nos trailers: após ter a identidade revelada por Mysterio, Peter Parker é perseguido pela fama e apela a Doutor Estranho para tentar fazer o mundo esquecer quem ele é.
O feitiço, no entanto, dá errado e vilões de diferentes universos começam a aparecer.
Grandes poderes
O que se segue é, finalmente, uma jornada de amadurecimento para o Peter Parker de Tom Holland.
Este é o filme com maior carga dramática da trilogia – finalmente nosso melhor amigo da vizinhança sente o peso de saber que, com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades. Em certa medida, é como ele se tornasse o Homem-Aranha só agora.
A carga dramática poderia soar clichê não fosse o talento do elenco.
Tom Holland está em seu auge e mostra que, de fato, é um dos atores com maior futuro em Hollywood.
No entanto, a MJ (Zendaya, que também forma casal com Holland na vida real) consegue superá-lo e roubar a cena facilmente; Ned Leeds (Jacob Batalon), o melhor amigo de Parker e principal alívio cômico, está mais engraçado do que nunca.
Já em relação a outros coadjuvantes, alguns como Doutor Octopus (Alfred Molina) e Duende Verde (Willem Dafoe) estão excelentes, enquanto outros estão completamente no piloto automático, apesar do apelo e a reverência a seus personagens.
Em momento algum, a maior carga dramática se traduz em menos humor – muito pelo contrário.
O timing de comédia que a Marvel aperfeiçoou em seus mais de dez anos de universo cinemático é bem empregado para que o Homem-Aranha continue sendo o herói mais engraçado de todos, mas sem soar artificial.
Artificial mesmo é o excesso de CGs aplicados a fundos verdes, algo padrão no universo Marvel e que, a essa altura do campeonato, soa como um truque velho de mágica: sabemos como funciona, mas diverte (ainda que sem fazer os olhos brilharem). Em nenhum momento as várias cenas de ação cansam.
O mesmo não pode ser dito do roteiro: mesmo com tantas expectativas sendo gerenciadas no primeiro ato, o segundo ato cansa, principalmente pela preguiça do roteiro que, com pressa de chegar nos finalmentes, apela para soluções sem sentido e mal desenvolvidas.
A mágica de verdade apare no terceiro ato, que combina ação, drama e surpresas suficientes para surpreender qualquer espectador, apesar de ainda apelar para clichês como o da solidão do herói.
Grandes responsabilidades
No fim do dia, há muita semelhança entre Sem Volta Para Casa e Vingadores: Ultimato, o último grande fenômeno da Marvel nos cinemas.
Ambos são prova de como a Casa das Ideias é autoconsciente do seu tamanho e adora se autorreferenciar.
Se em Ultimato, a viagem no tempo era a desculpa para a Marvel homenagear sua década de sucessos no cinema, em De Volta Para Casa, o multiverso é o gancho para apelar para a nostalgia de quase 20 anos de filmes do Homem-Aranha.
Sem Volta Para Casa seria só mais um razoavelmente bom filme de super-heróis não fosse a nostalgia por trás dele.
Tal qual uma criança rica que ostenta seus brinquedos, Marvel e Sony fazem questão de desfilar uma enxurrada de referências (ou fan services) para quem acompanhou os filmes do Homem-Aranha.
É na nostalgia cuidadosamente administrada pelos fan services que De Volta Pra Casa se apoia para poder driblar furos de roteiro, saídas clichê ou qualquer outro defeito e transformar um filme bom-porém-imperfeito em um fenômeno que vai ser discutido por anos pelos fãs de cultura nerd.
Mais uma vez, a Marvel conseguiu – com estratégia dentro e fora das telas – guiar os sentimentos do espectador para onde ela quiser.
FONTE: Por CNN