Segundo a Secretaria de Defesa Social, morador de rua matou Beatriz depois que ela se assustou ao ver faca que ele portava. Para Lucinha Mota, motivação ainda precisa ser investigada.
A mãe da menina Beatriz Angélica, Lucinha Mota, disse que acredita que o suspeito identificado por meio de exames de DNA seja, de fato, o homem que matou a facadas a garota, em 2015, dentro de uma escola em Petrolina, no Sertão. No entanto, segundo ela, a motivação apontada pela Secretaria de Defesa Social (SDS) “não convence”.
“A prova científica do DNA é importante. Tem uma relevância muito grande, isso é ciência, não se contesta. O máximo que se faz é repetir para ter opiniões de outros especialistas”, disse.
As declarações foram dadas logo após uma coletiva feita pela SDS, no Recife, para detalhar a identificação do suspeito como sendo Marcelo da Silva, de 40 anos, já preso por outros crimes. A secretaria disse que ele confessou ter entrado na escola para pedir dinheiro e matado a menina depois que ela se desesperou ao ver a faca que ele portava.
O pai de Beatriz e marido de Lucinha, Sandro Romilton, era professor de inglês no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, onde ocorreu o crime. Segundo a mãe da menina, a escola era bastante rígida e, durante os 14 anos em que frequentou o local, como mãe de uma aluna e esposa de um funcionário, sempre precisou se identificar.
Ela disse, ainda, que durante festividades, a escola só permitia a entrada de pessoas que estavam autorizadas em convites. Isso, segundo ela, faz com que seja difícil acreditar na versão dada pela SDS, de que o assassino de Beatriz conseguiu entrar na escola com pouca dificuldade. No dia do crime ocorria no colégio uma formatura, sendo uma das alunas a irmã da vítima.
“Essa conversinha de que ele entrou aleatoriamente, que escolheu uma vítima ali porque é um doido não me convence, precisa-se de mais”, declarou Lucinha Mota.
Marcelo da Silva, de 40 anos, está preso desde 2017, condenado por estupro de vulnerável. Depois de seis anos, um mês e um dia do crime, a polícia declarou ter concluído que o material genético dele é compatível com o que foi encontrado na faca deixada no tórax da menina Beatriz, em 2015.
A polícia disse que ele confessou o crime. Na terça-feira, Lucinha Mota foi informada pela imprensa da identificação do suspeito. À noite, ela fez uma transmissão no Instagram em que disse que não queria que um possível inocente pagasse pelo crime e que o DNA, por si só, não era suficiente.
“Então, eu estou aqui, nós estamos aqui com muita fé de que ele é o assassino de Beatriz, mas ainda é pouco”, disse Lucinha. “Eu acredito [que ele seja o autor do crime], pelos elementos que eles apresentaram, que é o resultado do DNA, que é incontestável, e as características físicas, mas isso só não é suficiente”, completou a mãe de Beatriz.
A SDS informou, ainda, que os indícios apontam que Marcelo agiu sozinho e não teve a ajuda de outras pessoas. Lucinha Mota, por sua vez, acredita que pode haver um mandante e que possíveis problemas da escola em que a menina morreu podem ter a ver com a motivação do crime.
Lucinha disse, também, ter tido acesso a vídeos em que o suspeito aparece com o que seria um telefone.
“Ele chega, ele esconde a faca, ele recebe uma ligação ou uma mensagem, ele bota o telefone próximo à orelha dele, como se estivesse recebendo uma ligação. Ele vai no canteiro, pega a faca, bota no pé e parte em direção ao colégio. Pelo amor de Deus, não precisa ser nenhum expert para entender que, ali, alguém avisou a ele. O quê? O momento certo de entrar? Essas coisas que precisam ser identificadas”, questionou.
Banco genético
A coletiva de imprensa promovida pela SDS foi restrita a jornalistas. Por isso, os pais de Beatriz não puderam participar, mas foram chamados pelo secretário para uma conversa antes da entrevista. O anúncio da autoria do crime ocorreu 15 dias depois que os pais de Beatriz percorreram durante 23 dias mais de 700 quilômetros a pé, entre Petrolina e o Recife, para pedir justiça.
No dia em que chegou ao Recife, a família foi recebida pelo governador Paulo Câmara (PSB), no Palácio das Princesas, sede do governo. O governador afirmou que era favorável ao processo de federalização das investigações.
A peça-chave para o esclarecimento do caso foi a faca usada no crime. Os peritos coletaram o DNA no cabo da arma, deixada no local do homicídio. As amostras estavam misturadas ao sangue de Beatriz.
No entanto, o perfil genético encontrado não era considerado “padrão ouro”, o que permitiria fazer o confronto com bancos de DNA. O que se conseguiu recentemente foi o que é chamado de DNA nuclear, que individualiza a pessoa. Assim que isso foi feito, Marcelo da Silva foi apontado como suspeito.
O homem foi preso em 2017 após ser condenado por estupro. Em 2019, ele teve material genético colhido para inserção no banco genético do estado num mapeamento entre os condenados do sistema prisional, como permite a legislação.
Em 2021, a polícia começou a monitorá-lo, junto com outros 124 condenados do sistema prisional. Depois que foi obtido o “padrão ouro” do DNA encontrado na faca, ele foi submetido a outro recolhimento de material genético e, após diversos procedimentos, foi apontado como o suspeito.
Investigação
Em entrevista à TV Globo, nesta quarta, a ex-chefe da Polícia Científica, Sandra Santos, disse que a investigação poderia ter chegado antes ao desfecho, mas que houve erros durante a apuração do caso.
FONTE: Por G1