Menino passou por funcionários do aeroporto sem ser percebido e embarcou para Guarulhos, em São Paulo. Trajeto feito por ele durante fuga foi reconstituído pela Polícia Civil.
Imagens de câmeras de segurança do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, em Manaus, mostram o momento em que o menino de nove anos, que viajou sozinho para Guarulhos, em São Paulo, passa por funcionários e entra na sala de embarque sem ser percebido.
Na sexta-feira (4), a Polícia Civil fez uma reconstituição do caso com o pequeno Emanuel Marques de Oliveira, no aeroporto de Manaus.
Com o intuito de ir para São Paulo, ele viu que tinha um voo às 15h50. Como não conseguiria comprar a passagem, já sabia que teria que enganar a fiscalização.
As imagens do circuito interno de câmeras mostram que o menino tentou entrar na sala de embarque duas vezes. Na primeira, ele ficou com medo de ser descoberto. Na segunda, ficou na fila com um grupo de passageiros.
Pra entrar, os passageiros precisam mostrar identidade e cartão de embarque. Mesmo assim, o menino não foi parado pelos funcionários do aeroporto e conseguiu passar.
Segundo a mãe do menino, que preferiu não se identificar, ele contou que ainda chegou a colocar uma mochila que levava e seu casaco para passar pelo raio x.
“Como foi, meu filho, pra você passar no raio x?. ‘Eu tirei a mochila que tava nas costas, coloquei, passou. Mandaram eu tirar a jaqueta que eu tava. Eu também tirei'”, contou a mãe do menino.
Na última barreira de fiscalização, enquanto dois funcionários faziam a checagem de passageiros, o menino aproveitou para passar sem ser notado.
“Ele não foi abordado em nenhum momento. Não foi solicitado nenhum documento de identificação. Ele simplesmente entrou”, informou a delegada titular da Delegacia Especializada em Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca), Joyce Coelho, que investiga o caso.
Desacompanhado e como se fosse um passageiro qualquer, ele conseguiu embarcar. Foram cerca de 4 horas de viagem até chegar ao Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo.
Assim que pousou, ele foi descoberto por funcionários da companhia aérea Latam, ainda dentro do avião.
O juiz da Infância e da Juventude de Manaus, Eliezer Fernandes Junior, explicou que crianças e adolescentes até 16 anos só viajam com autorização judicial ou autorização extra judicial através dos pais.
“Podem ser acompanhados por parentes até terceiro grau, sem necessidade de autorização judicial porque eles tem que comprovar, através de documentos, que tem grau de parentesco”, explicou.
Conforme o delegado da Polícia Federal, Ricardo Raposo, a fuga do meninoevidenciou uma falha no sistema de segurança do aeroporto e que o ocorrido vai gerar um procedimento de apuração administrativo.
No domingo (27), um dia depois de ter fugido de casa, o menino de 9 anos voltou pra Manaus, acompanhado por funcionários da empresa aérea.
“Foi um alivio de eu abraçar meu filho ali, de estar de novo comigo, no meu braço”, relatou a mãe do menino.
Emanuel explicou que queria ir até Campinas, onde passou as férias de janeiro. Ele disse não queria morar mais em Manaus e que queria se mudar para a cidade.
“Eu falei pra ele: tudo o que tu fez não teve nada de engraçado. Não foi nada de heroísmo, foi um negocio sério”, disse o pai do menino, que preferiu não se identificar.
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) confirmou que foram identificadas falhas em procedimentos de acesso à area restrita e contou que aguarda o recebimento de dados adicionais para dar prosseguimento ao processo.
Acompanhamento
O menino disse aos pais que pensa em fugir de novo. Por determinação da polícia, ele está tendo acompanhamento psicológico.
“Que as crianças não tomem isso como exemplo. Muito pelo contrario. Que seja dito para as crianças que o que ele fez foi muito perigoso, que ele colocou a própria vida em risco. Ele precisa de ajuda. Tem que ser ensinado desde já sobre os limites e responsabilidades da vida”, disse a delegada
O sumiço
Em entrevista ao g1, a mãe do menino contou que percebeu que o filho não estava em casa nas primeiras horas da manhã do dia 26 de fevereiro. Eles moram na comunidade União da Vitória, bairro Tarumã, em Manaus.
“Acordei às 5h30, fui ao quarto dele, e vi que ele estava dormindo normalmente. Depois mexi um pouco no celular e levantei novamente, já às 7h30, quando percebi que ele não estava mais no quarto e comecei e me desesperar”, afirmou.
Depois de registrar boletim de ocorrência na delegacia e começar a divulgar a imagem do filho nas redes sociais, a eletricista recebeu a ligação de um funcionário da Latam, por volta das 22h daquele mesmo dia, informando que a criança estava no aeroporto de Guarulhos (SP).
“Assim que eles me contaram que ele estava lá [no Aeroporto de Guarulhos], avisei a delegada. Os policiais até perguntaram se eu podia ir buscá-lo, mas eu disse que não teria como fazer isso, e sim queria que a empresa Latam retornasse com o meu filho”.
O que o menino disse
Segundo a mãe, Emanuel contou detalhes da viagem sozinho de avião sem documentação e sem bilhete de embarque.
“Ele me disse que pegou alguns ônibus aleatórios aqui de casa [no bairro Tarumã-Açu] até chegar no aeroporto. Depois, olhou no painel o horário dos voos e entrou em um deles. O meu filho passou por três vistorias sem que alguém notasse que ele estava sozinho, sem documentação nem bilhete de embarque”, disse a mãe.
Ela disse ainda que jamais imaginaria que o filho pudesse ter viajado sozinho de avião quando percebeu que ele não estava em casa.
“O que eu fico pensando é como uma criança consegue passar por um sistema de aeroporto que é tão burocrático para a gente [adultos] passar. Por isso eu quero uma resposta da companhia aérea e do aeroporto sobre como o meu filho conseguiu embarcar sozinho”, concluiu.
O que dizem a Latam e o aeroporto
Em nota, a L AMatam disse que “lamenta o ocorrido e que medidas de segurança já estão sendo reforçadas e tomadas para garantir que este tipo de situação não volte a ocorrer”.
A administração do Aeroporto de Manaus informou que vai fazer uma “revisão dos procedimentos, e adequações e modernizações na infraestrutura”, e que vai reforçar “a vigilância no embarque, automatizando o acesso dos passageiros”.
FONTE: Por G1